Alargo ma non troppo

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Ogrande alargamento da União Europeia, em 2004, foi o fim de uma história. Com a entrada da Polónia, da Hungria, da República Checa e da Eslováquia, mas também de Estónia, Letónia e Lituânia (sobretudo estes sete), no clube das democracias e economias de mercado europeias terminava a Guerra Fria. Não era o fim da história, mas era o fim daquela história. E sendo certo que o mais importante correu bem, nem tudo correu pelo melhor. Há tensões, há dúvidas, e há, sobretudo, risco de retrocesso em alguns destes países. A democracia, já aqui disse, é um hábito, e não parece que por ali esteja suficientemente enraizado. Mas se não tivesse sido assim, teria sido certamente pior.

Quem hoje defende que teria sido preferível (para a União Europeia, presume-se) que a Europa não se tivesse aberto a Leste precisa de explicar como é que a Europa seria hoje mais próspera e segura. Dentro e fora dessas fronteiras.

Não ter alargado então, ter deixado à porta todos aqueles povos, teria sido bem pior para eles e para nós. Para eles, porque sem possibilidade de novos mercados, e de apoio institucional e financeiro, facilmente teriam retrocedido; para nós, porque esse retrocesso seria bem pior do que aquilo que hoje nos parece grave, e aconteceria sem que tivéssemos qualquer capacidade de influenciar o que se estaria a passar nas nossas fronteiras muito mais próximas. Compare-se a Ucrânia com a Polónia ou a Hungria, em caso de dúvida.

Mas nos anos 1990 a divisão não era sobre o risco que aqueles países poderiam representar para o conceito de Europa que tínhamos, era, essencialmente, entre quem queria mais aprofundamento (leia-se integração europeia) primeiro, e alargamento depois (os federalistas); e quem defendia o alargamento antes de todas as coisas (conscientemente ou não, sabendo que quanto mais Estados membros, menos provável era o federalismo).

A situação atual é diferente e o que se pensar sobre o alargamento de 2004 não é necessariamente um bom guião para pensar os próximos, aos Balcãs. A urgência de então não existe hoje. A necessidade de uma âncora democrática e ocidental não é a mesma. E os riscos, para uns e para outros, também são diferentes. O problema não é interno. Isto é, não se trata de aprofundar antes de alargar. Não é preciso aprofundar - pelo menos não é preciso aprofundar tanto quanto alguns eurofederalistas quereriam. Mas é necessário garantir que do lado de lá, dos que estão fora, estão reunidas todas as condições. Que a democracia se tornou um hábito, com raízes. Que é como quem diz, com instituições. Incluindo a paz, a memória da paz e sistemas políticos e judiciais fiáveis. Para começar.

A Comissão Europeia publicou, há dias, um mapa para o futuro dos alargamentos. Depois de um período de abrandamento, agora promete que os processos são para avançar, mas com condições e conforme a situação de cada um (que é diferente, do Montenegro ao Kosovo). É o correto. A bem de todos, a Europa, e os países candidatos, podem esperar. Até que todos os candidatos estejam, de facto, prontos. Mas sem duvidar do objetivo.

Consultor em Assuntos Europeus

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