A teoria do capitalismo verde
Quase no final do ano passado, o CEO da Goldman Sacks, David Solomon, assinava um artigo de opinião no Financial Times sobre as alterações climáticas a dizer que "além de uma necessidade urgente de agir, há um forte argumento económico e financeiro para o fazer. " Em Bruxelas acredita-se exatamente no mesmo.
A apresentação, na semana passada, do Pacto Ecológico Europeu (que vai ser conhecido por Green Deal, deixemo-nos de coisas) mostra que a Europa acredita que a revolução que as políticas de transição climática impõem pode ser uma oportunidade para a economia europeia. A oportunidade. É fácil perceber porquê e como, é menos evidente se vai resultar. É essa a parte que interessa discutir.
Sem duvidar da sinceridade dos decisores políticos quanto ao que os preocupa, nem ser cínico, é evidente que mesmo que a União Europeia neutralizasse amanhã todas as suas emissões de CO2, o impacte no clima e no planeta seria reduzido. Há outras partes do mundo a emitir muito mais. E há de haver. À medida que milhões continuem a sair da pobreza e da miséria, na Ásia, já, em África, um dia, os consumos energéticos, a vontade de viajar, a qualidade das casas, a produção industrial, a generalização do acesso à melhor a medicina, tudo isso vai implicar consumir mais recursos. Viver nas cavernas era muito mais amigo do ambiente, mas ninguém quer voltar lá. (Viver moderadamente é outra coisa, e é uma escolha individual.)
A ideia não é passarmos todos a andar a pé, ou atravessar o atlântico à vela, e a comer os legumes do quintal. A estratégia do Green Deal passa por impor, via políticas e legislação, a redução de emissões, e oferecer, por via financeira (com dinheiro da União Europeia e incentivos ao uso de muitos fundos privados) oportunidades de negócio. A convicção, em Bruxelas, é que a Europa pode liderar pelo exemplo e pela exportação de regras, através dos acordos de comércio e de taxas alfandegárias. E que, investindo primeiro, pode liderar a revolução tecnológica que a transição implica e lucrar com isso. Uma espécie de capitalismo com incentivos de Estado, primeiro, e do mercado depois. E com uma almofada, que o tempo dirá se é suficiente ou não, proteger os que ficarão para trás, procurando evitar que os deserdados do clima fiquem como os deserdados da globalização que alimentam populistas e radicais.
Ao lado da visão optimista, há o risco. Os custos desta transformação não são conhecidos (os valores que diferentes estudos apresentam fazem lembrar as secções de horóscopo dos jornais), as melhores tecnologias também não, pelo que escolhê-las agora é um erro, e a inovação dirigida não é garantido que seja a mais bem-sucedida. O risco, para a Europa, é o de criar um custo para a economia sem gerar a oportunidade nem assegurar a eficácia. Fazer uma ruptura, em vez de uma transição.
Para que resulte, é preciso que cada medida de combate e adaptação às alterações climáticas seja pensada também em termos de oportunidade económica. Nisso o capitalismo e a economia de mercado têm provado ser bastante mais eficazes que qualquer outra solução. É a melhor esperança, na verdade.