A Defesa da Europa na Síria

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A súbita decisão de Donald Trump de retirar as tropas americanas da Síria revela três coisas: que, com esta presidência, estes americanos não são um aliado previsível nem fiável; que o soft power de que a Europa tanto se orgulha é bastante inconsequente; e que a Europa tem de concordar numa política externa e de defesa (não sem a NATO e seguramente não contra os americanos). As duas primeiras destas revelações não são grande novidade, a outra é.

O maior problema geopolítico imediato da Europa é o Médio Oriente e muito especificamente a Síria. Do terrorismo aos refugiados (convém mesmo não confundir as duas coisas), é dali, daquele conflito, que vêm as ameaças e desafios à nossa segurança e estabilidade. E, no entanto, a Europa ou tem tido uma intervenção residual ou tem feito outsourcing.

Ao longo das últimas décadas a Europa usou as Forças Armadas dos Estados Unidos para defender os seus interesses, ao mesmo tempo que criticava a atitude de Polícia do Mundo. Ao contrário dos americanos, os europeus eram justos, bons, e pacíficos. E, sobretudo, influenciavam porque conquistavam pelo exemplo. A Europa tinha softpower. Os europeus (à exceção dos franceses, que acham que têm um papel militar no mundo, e dos britânicos, que têm), enquanto tal, não disparavam um tiro (exagerando-me), nem era preciso.

Quando os americanos saírem da Síria, ficam no terreno os russos, os iranianos e os turcos. A ordem que cada um destes quer é uma que não nos interessa, necessariamente. A segurança que os preocupa, não é a nossa. E é então que se vai ver se temos softpower e se chega.

A primeira discussão, então, que temos de ter é sobre quais são os nossos interesses regionais. Acabar com o ISIS até ao fim e pôr termo ao fluxo de refugiados estão, obviamente, no topo da lista. A segunda, mais complexa, é sobre como fazê-lo. Agora e, de um modo geral, sempre que formos nós os responsáveis pela nossa segurança.

Mesmo a quem repugne, ou pelo menos preocupe, a ideia de uma política externa e de defesa europeia, a verdade é que as circunstâncias impõem a coordenação entre os Estados Membros. Mesmo sabendo que os 27 nem sempre têm interesses externos idênticos, neste caso as preocupações de alemães, polacos, franceses, húngaros ou até portugueses são semelhantes,

Por mais que a Europa possa ser útil a ajudar, a seu tempo, a reconstruir a Síria, para já, para ser influente, tem de ter tropas no terreno. Não é possível jogar este jogo sem força nem forças. Não precisam de ser muitas (os americanos tinham poucas), mas precisam de ter utilidade e importância. E não podem ser britânicas (o Brexit também significa isso). Nem apenas francesas.

Trump, ao contrário do que espera, e do que dizem só seus críticos, corre o risco de estar a fazer mais pela criação de um exército europeu do que seria necessário e, sobretudo, desejável. Mas se é preciso, que se faça com os nossos aliados. Ou seja, na NATO.

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