O romancista a que já não chega ser popular

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Os textos "O fascismo tem origem no marxismo", de José Rodrigues dos Santos (J.R.S.), e "Fascismo é quando um homem quiser", de António Araújo (A.A.), tiveram um duelo no jornal Público. O resultado vê-se logo nos títulos. Se ninguém está à espera de filosofia política da parte do jornalista e escritor, quem conhece o melhor blogue português, o Malomil, sabe que o seu autor - historiador e consultor político de presidentes - é capaz de ser mau com atrevidos, o que é muito bom. A.A. deu uma coça a J.R.S. Sobre o duelo, está dito. Mas há uma ideia no texto de J.R.S. que me parece bizarra. Escreveu ele: "(...) façam o favor de desmentir as provas que apresento nos meus romances." Ora, os romances podem inventar o que quiserem. Ninguém falou da incursão de J.R.S. pela filosofia política enquanto ela ficou dentro dos romances. Só quando, em sucessivas entrevistas e no tal texto, ele tentou defender a sua tese é que J.R.S. se expôs à demonstração, por alguém mais sábio, que não tem unhas para aquilo. Já os romances não podem ser sujeitos a desmentido. Tolstoi inventou para Pierre Bezukhov um mundo de mais de mil páginas em Guerra e Paz. Mas, apesar de ser uma mentira, e nunca ter existido, ninguém obrigou Tolstoi a mostrar a certidão de nascimento de Bezukhov. Com os romances de J.R.S., o desmentido que falta é do próprio autor sobre se os seus títulos, As Flores de Lótus e O Pavilhão Púrpura, se inspiram ou não em nomes de condomínios fechados de luxo.

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