Marcelo falou-nos

Publicado a
Atualizado a

Marcelo, para falar da floresta, começou pela árvore. Convocou-nos para uma comunicação política e falou do homem. E para falar de e sobre homens começou por falar de si: "Nestes tempos de números e de chavões políticos, mais de cem mortos são um peso enorme na minha consciência e no meu pensamento", disse o nosso Presidente (foi exatamente o que ele foi ontem, nosso). Na crónica que ontem aqui publiquei, abri-a assim: "É um velho debate, os bons políticos são para nos governarem bem ou para nos acalentarem?" E escrevi-a para sublinhar que em democracia não há política sem a saber dar bem àqueles que a política deve servir. Por isso, o homem público, se precisa de saber do que fala, tem também de saber fazer-se escutado. Em tempos de comício, alguma retórica fornece os truques necessários. Em tempos de mais de cem mortos e de vivos espantados, é preciso não mais, mas outra coisa. Precisa-se daquilo que Marcelo nos deu ontem. Vou dizê-lo, com risco de os cínicos gracejarem: é preciso conversa. Aquele camponês de Ventosa, Vouzela, que eu ontem referi e foi fotografado olhando-nos, mãos calosas e olhos tão tristes, era nós. E era de ouvir o que Marcelo disse, e como o disse, que ele precisava. Que nós precisávamos. Os analistas que se debrucem sobre: "Última oportunidade para levar a sério a floresta" e "se houver margens orçamentais que se dê prioridade à floresta" e "o governo que retire todas, mas todas as consequências" e "abrir um novo ciclo" e outras frases, mensagens políticas de Marcelo. Todas importantes e que podem ser aplaudidas ou contraditadas. Mas os políticos de todos os partidos deveriam saber que o mais importante que ontem foi dito não foram as frases. Foi a conversa. Foi ela que deu poder ao que foi dito.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt