2018

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Época de balanço e perspetivas. Vou concentrar-me num nicho: as comemorações. O ano que vem será do primeiro aniversário depois do centenário da Revolução Russa: 2018, quando ela faz exatos 101 anos. O importante não será evocar, de 1917, Lenine e os sovietes a tomarem o Palácio de Inverno. Isso, contas feitas, foram só maus exemplos. Aliás, como repararam, o 1917 russo ficou marcado por um quase esquecimento. A revolução tradicionalmente evocada é a de outono (outubro ou novembro, por causa da ambiguidade do calendário russo) e essa já ganhou na nossa memória o estatuto de fiasco. Já sabemos que Lenine e os seus foram meros - mas muito eficazes - golpistas que se aproveitaram de um profundo movimento social para fugir para a frente e tomarem o Estado. Tão para a frente que não tinham soluções e geraram uma sociedade árida que, demasiadas décadas depois, morreria de si própria e com crimes gigantescos. A falta de entusiasmo no centenário de 2017 deveria ser aproveitada para, em 2018, descobrirmos o que foi importante há 101 anos: a Revolução Russa. Não a de Lenine mas a de fevereiro de 1917, quando a história e as suas leis inesperadas acabaram com o feudalismo na Rússia e a autocracia dos czares. Também há exatos cem anos, Natal de 1917, outro exemplo, era dada como certa a vitória alemã na I Guerra Mundial. Pouco meses depois, a partir da Páscoa de 1918, o contrário: sem nada que resultados militares o justificassem, mas porque sim, os soldados alemães sentiram-se derrotados nas trincheiras. Em novembro, confirmou-se: a Alemanha rendeu-se. Os partidos escrevem a história e dizem que foram eles os motores. Não são. Podem cavalgá-la e desviá-la, mas só para tornar uma viagem louca o que é um movimento inexorável. 2018 é um bom ano para ensinar a humildade aos homens e aprendermos a não ser revolucionários. Controlo de danos, eis para que servem os grandes políticos.

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