E se Donald Trump tresleu a frase de Emídio Rangel?
E se tudo não passasse de um teaser? Do maior, mais fantástico e sem vergonha teaser da história da publicidade? A corrida presidencial de Donald Trump tem sido comparada àquele conhecido truque de campanha publicitária que faz anúncios prévios para atrair a atenção para um objetivo falso. E, quando o público está fisgado, satisfaz-lhe a curiosidade com o verdadeiro produto a vender. O candidato Trump seria, nesta versão, nada mais nada menos que o anunciador da futura TV Trump!
É talvez só mais uma teoria para a campanha presidencial americana 2016, tão cheia já de peripécias esquisitas. Mas ela tem sido comentada sobretudo pela imprensa económica, geralmente mais interessada em números do que em teorias mirabolantes. Primeiro, foi o Financial Times, na semana passada, a juntar indícios. Jared Kushner, genro do candidato, casado com Ivanka Trump, contactou há dois meses, segundo aquele jornal económico, um banco de investimento para sondar a viabilidade de uma TV Trump. Kushner é um homem dos media, proprietário do semanário New York Observer e o próprio candidato republicano também se tornou figura popular pela sua participação em shows televisivos.
Os mais influentes conselheiros da campanha de Trump são personalidades televisivas. Entre eles, Roger Ailes, antigo braço direito do patrão de imprensa internacional Rupert Murdoch, quando fundou o canal Fox, há 20 anos. Recentemente, Ailes foi obrigado a demitir-se da Fox, por causa de um escândalo de assédio sexual a uma jornalista. É certo que o acordo de rescisão obriga-o a não poder fazer concorrência, mas comentadores vedetas da estação, como Sean Hannity e Bill O"Reilly, têm cláusulas nos seus contratos que lhes permitem sair da Fox caso Roger Ailes, como aconteceu, o tenha feito. E, em agosto, Trump convidou Stephen Bannon a liderar-lhe a campanha, apesar de ele não ter qualquer experiência política. Mas Bannon é o dono da Breitbart TV, uma rede de websites de direita em plena expansão.
Tanto Donald Trump como Bannon desmentiram já a intenção de partilharem uma empresa televisiva. Mas com o avolumar das probabilidades de o republicano perder as eleições a 8 de novembro, a revista Fortune titulou, esta semana: "O lançamento suave de um novo empreendimento de Trump, nos media, continua." E refere as experiências em estúdio televisivo, com debates entre convidados, feitos pela organização da campanha, através da rede social Facebook. Um dos convidados voltou a negar: "Isto não tem nada que ver com a TV Trump."
Pode ser, afinal, que Donald Trump só esteja a recolher os méritos que todos lhe reconhecem: ninguém o vê a perder nas urnas e a não capitalizar em negócios o que conseguiu numa campanha nacional, em nome de um dos dois maiores partidos políticos da maior potência mundial. Emídio Rangel, o entendido na matéria, um dia declarou: "Uma estação televisiva pode vender tudo, até o presidente da República!" Mal ele sabia que, algures na América, alguém lhe ia modificar o texto: uma campanha eleitoral consegue tudo, até a propriedade de um canal televisivo!