Um belo dia para nascer, aquele em que escrevo a 19 de julho, ontem. Nascido a 19 de julho!, bela data. Tão bela como 8 de outubro, ou 12 de abril, sei lá, 5 de maio, qualquer dia do calendário. Então, por que escolho o dia de ontem? Porque sim..O que quer que seja que a vida venha a dar, o nascer de um homem ou de uma mulher é a mais forte das religiões, a esperança mais legítima nos mais importantes testemunhos que há, os homens e as mulheres. Escolho um 19 de julho para falar dessa maravilha, homens e mulheres, porque é véspera da concorrência de data muito mais forte, o 20 de julho..Há meio século, um homem deu um primeiro passo no universo fora da Terra, pisou lento, marcou o chão e saltou leve. Alguém nascido hoje, chamemos-lhe Neil ou Apollo ou Maria Luna, está demasiado marcado pela força da data. Como os miúdos nascidos a 25 de dezembro, que recebem menos presentes de aniversário porque os de Natal ajudam a desculpar a falta... Que dizer ao bebé Apollo que não seja esmagado pela força do que aconteceu há 50 anos?.Ora, apetece-me escrever nesta semana a um bebé Apollo (pecadilho num bebé, mas terrível destino para adolescente que não seja um adónis), apetece-me uma carta aberta a um bebé Apollo mesmo que, claro, não se chame Apollo. Um nascido numa data comum, olhem, um 19 de julho, que do grande dia só tenha a tangente. Uma criança a quem eu possa dizer coisas terra a terra. Invento, portanto. "Querido Quase Apollo...".Um belo dia para nasceres, este 19 de julho. Irás saber, falhaste alunar por um dia. Não te importes, todos os dias são grandes. Mesmo com as ferramentas pré-históricas do ano em que nasceste, e em que te escrevo, um tal Google mostra-te, em segundos, históricos gémeos de calendário. Não, nenhum assunto, no teu dia, 19, foi tão tremendo de manchete como o dia seguinte foi. Mas não te importes, é essa a força do clube a que acabas de aderir: em sabendo olhar, os homens foram, e são, comovedores e espantosos. Por exemplo, do teu dia foi um tal Edgar Degas. Irás conhecer a graciosidade e a beleza do que ele te deixou, sem suspeitar de que vocês iriam partilhar a data de nascimento..Mas, querido Apollo (deixa-me tratar só pelo nominho, Quase Apollo é demasiado grande), quero lembrar-te, nesta carta, mais importante do que gente famosa são as pessoas. Sugiro-te atenção constante e interessada pela gente à tua volta. Toda. Ontem, ainda eu não sabia que tinhas acabado de nascer, e eu recebi de um jovem colega de trabalho uma mensagem: "Sou mestre.".Trabalhamos em jornais, ele inicia-se e, por isto e aquilo, é arredio ao que as pessoas fazem entre elas (dão-se abraços, apertam as mãos, falam muito...), enfim, ele parece fora do normal que seria um futuro profissional de comunicação social. Ontem, ele fez um exame, brilhante, e que ele, o tímido, resumiu na mensagem que me enviou e eu te disse. Respondi-lhe: "Tu és mestre, Neil [foi outro o nome que dei], gostas sempre do que fazes e isso é um mestrado do caraças!" Isto para te dizer, Apollo, que não foste ontem o primeiro a comover-me. A minha carta, já to disse, é um conselho simples e fundamental: não desperdices as pessoas..As pessoas e também o que elas fazem. O Google diz que no teu dia, em 1843, um barco foi lançado em Bristol, o SS Great Britain, o primeiro navio de casco e hélice propulsora de ferro, o maior transatlântico de então. Parecem coisas técnicas, mas procura o que de pessoas elas contam..Naquele dia, ao nascer no porto de Bristol, o SS Great Britain disse, fazendo: "Vou viajar." Almada Negreiros, um poeta português, definiu com um verso o que tu fizeste ontem: "Mãe, vou viajar." O grande navio passou a vida indo e voltando, sempre no mesmo percurso, passando frente à ilha do poeta, São Tomé, até à Austrália. Ia e voltava. Eis coisas técnicas dando caras e nomes e vidas. É o que te desejo, atenção aos homens e mulheres, sempre..Viaja, mesmo que só na tua pequena cidade, ou até à Lua. Sempre atento às pessoas - como esse outro Apollo, a nave Apollo 17, quando fotografou pela primeira vez, a 7 de dezembro de 1972, o Berlinde Azul, a tua casa Terra. Vê sempre nessa beleza o que lá está mesmo não vendo.
Um belo dia para nascer, aquele em que escrevo a 19 de julho, ontem. Nascido a 19 de julho!, bela data. Tão bela como 8 de outubro, ou 12 de abril, sei lá, 5 de maio, qualquer dia do calendário. Então, por que escolho o dia de ontem? Porque sim..O que quer que seja que a vida venha a dar, o nascer de um homem ou de uma mulher é a mais forte das religiões, a esperança mais legítima nos mais importantes testemunhos que há, os homens e as mulheres. Escolho um 19 de julho para falar dessa maravilha, homens e mulheres, porque é véspera da concorrência de data muito mais forte, o 20 de julho..Há meio século, um homem deu um primeiro passo no universo fora da Terra, pisou lento, marcou o chão e saltou leve. Alguém nascido hoje, chamemos-lhe Neil ou Apollo ou Maria Luna, está demasiado marcado pela força da data. Como os miúdos nascidos a 25 de dezembro, que recebem menos presentes de aniversário porque os de Natal ajudam a desculpar a falta... Que dizer ao bebé Apollo que não seja esmagado pela força do que aconteceu há 50 anos?.Ora, apetece-me escrever nesta semana a um bebé Apollo (pecadilho num bebé, mas terrível destino para adolescente que não seja um adónis), apetece-me uma carta aberta a um bebé Apollo mesmo que, claro, não se chame Apollo. Um nascido numa data comum, olhem, um 19 de julho, que do grande dia só tenha a tangente. Uma criança a quem eu possa dizer coisas terra a terra. Invento, portanto. "Querido Quase Apollo...".Um belo dia para nasceres, este 19 de julho. Irás saber, falhaste alunar por um dia. Não te importes, todos os dias são grandes. Mesmo com as ferramentas pré-históricas do ano em que nasceste, e em que te escrevo, um tal Google mostra-te, em segundos, históricos gémeos de calendário. Não, nenhum assunto, no teu dia, 19, foi tão tremendo de manchete como o dia seguinte foi. Mas não te importes, é essa a força do clube a que acabas de aderir: em sabendo olhar, os homens foram, e são, comovedores e espantosos. Por exemplo, do teu dia foi um tal Edgar Degas. Irás conhecer a graciosidade e a beleza do que ele te deixou, sem suspeitar de que vocês iriam partilhar a data de nascimento..Mas, querido Apollo (deixa-me tratar só pelo nominho, Quase Apollo é demasiado grande), quero lembrar-te, nesta carta, mais importante do que gente famosa são as pessoas. Sugiro-te atenção constante e interessada pela gente à tua volta. Toda. Ontem, ainda eu não sabia que tinhas acabado de nascer, e eu recebi de um jovem colega de trabalho uma mensagem: "Sou mestre.".Trabalhamos em jornais, ele inicia-se e, por isto e aquilo, é arredio ao que as pessoas fazem entre elas (dão-se abraços, apertam as mãos, falam muito...), enfim, ele parece fora do normal que seria um futuro profissional de comunicação social. Ontem, ele fez um exame, brilhante, e que ele, o tímido, resumiu na mensagem que me enviou e eu te disse. Respondi-lhe: "Tu és mestre, Neil [foi outro o nome que dei], gostas sempre do que fazes e isso é um mestrado do caraças!" Isto para te dizer, Apollo, que não foste ontem o primeiro a comover-me. A minha carta, já to disse, é um conselho simples e fundamental: não desperdices as pessoas..As pessoas e também o que elas fazem. O Google diz que no teu dia, em 1843, um barco foi lançado em Bristol, o SS Great Britain, o primeiro navio de casco e hélice propulsora de ferro, o maior transatlântico de então. Parecem coisas técnicas, mas procura o que de pessoas elas contam..Naquele dia, ao nascer no porto de Bristol, o SS Great Britain disse, fazendo: "Vou viajar." Almada Negreiros, um poeta português, definiu com um verso o que tu fizeste ontem: "Mãe, vou viajar." O grande navio passou a vida indo e voltando, sempre no mesmo percurso, passando frente à ilha do poeta, São Tomé, até à Austrália. Ia e voltava. Eis coisas técnicas dando caras e nomes e vidas. É o que te desejo, atenção aos homens e mulheres, sempre..Viaja, mesmo que só na tua pequena cidade, ou até à Lua. Sempre atento às pessoas - como esse outro Apollo, a nave Apollo 17, quando fotografou pela primeira vez, a 7 de dezembro de 1972, o Berlinde Azul, a tua casa Terra. Vê sempre nessa beleza o que lá está mesmo não vendo.