Ó mar Salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal

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Todos os portugueses estão infetados com o sal de Salgado, o homem que roubou uma parte substancial do bem-estar da nossa vida coletiva. A sua dívida colossal, assente numa soberba desmesurada, sem arrependimento até hoje, ditou esta peste, esta desgraça, que faz com que há seis anos estejamos atolados num oceano inquinado chamado Novo Banco e BES-mau.

O primeiro-ministro e o ministro das Finanças são apenas mais dois políticos obrigados a atuar sobre esta matéria putrefacta. Ninguém se sai bem, nunca. Neste caso, ainda por cima, foram Costa e Centeno que encontraram um tratamento para a maior fraude económica e política da última década, e por causa dela tornam-se em mais umas vítimas desta maldição. Foram eles, aliás, quem tiveram de arranjar um plano para aguentarmos com as consequências dessa ideia peregrina que foi a de "matar o banco", para depois ressuscitá-lo com outro nome e outra credibilidade "sem mais custos para os contribuintes", disse o fariseu de serviço na altura.

No entanto, como o vírus BES se transmutou em Novo Banco e continua à solta, a seriedade de António Costa infetou-se esta semana e a reputação de Centeno está nos cuidados intensivos. Na base do problema, no entanto, nada mudou: Salgado borboleteia, enquanto os tribunais acumulam papéis de uma culpa infinita em processos nunca finitos.

Mais irónico que tudo: se fizéssemos uma sondagem aos portugueses sobre os factos da última semana, o que diriam que aconteceu? Que gastamos/pagamos/perdemos mais 850 milhões no Novo Banco. Corruptos!, os políticos... (estes, agora, amanhã outros).

A verdade é que não houve qualquer dinheiro oferecido ao Novo Banco. O Governo enviou para o Fundo de Resolução os tais 850 milhões, mais uma tranche do empréstimo acordado em 2017 e que tinha como prazo o dia 6 de maio deste ano.

Já agora, o empréstimo pode correr mal? Pode, como acontece em todos os empréstimos. Mas nos empréstimos feitos pelo Fundo de Resolução aos bancos portugueses, o Estado não perdeu, até agora. Ganhou juros. E o resto do dinheiro será também ele devolvido, com juros, ao longo dos anos (desde que o banco não vá à falência).

Era melhor que não fossem necessários estes empréstimos? Sim, mas a bancarrota de 2011 destruiu boa capacidade do sistema bancário. Infelizmente, o que mais dói é que não estamos a apoiar o Novo Banco pela mesma razão que apoiamos os outros. No caso BES houve tudo aquilo que já sabemos e aguarda julgamento.

Portanto, a tal "Auditoria" do Novo Banco é uma coisa, como dizer... uma indulgência parlamentar, cara, barroca, queiroziana. Um faz de conta. Um salamaleque.

Catarina Martins, sempre a pensar no soundbyte, lá fez a rasteira, e desta vez conseguiu somar pontos ao fazer cair o garboso político apanhado com o ipso facto desatualizado e para o qual não teve nem tem resposta, por mais que diga. Porque, quem está no poder, passa a vida a tentar justificar o injustificável.

E o injustificável, no nosso caso, é isto: fazermos parte da contemporaneidade de um homem como Salgado. E não nos podermos ver livres dele jamais.

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