Covid e gripe: bons testes, hospitais preparados, mas o país não tem de parar

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Lembram-se daquele período, por alturas de Maio, em que Portugal "falhou" porque a Áustria e a República Checa já estavam a sair da Covid-19? Pois, olhe-se para a implacável (e ridícula) lista dos países excluídos pelos ingleses e assinale-se a entrada da República Checa esta semana (a Áustria já lá está há algum tempo) e nós de fora. Conclusão: isto está sempre a mudar. Mas há algumas conclusões que atravessam já estes oito meses e uma delas é esta: a covid-19 exige todo o cuidado, mas não é a peste, o ébola ou a cólera. E por isso precisamos de ponderar muito melhor as decisões de "manada" onde o medo desencadeia muitas outras doenças e mortes não estimadas.

Cada vez mais dados evidenciam que não há verdadeiras razões para voltar a parar toda a sociedade por causa de uma doença que coloca nos cuidados intensivos menos de 1% por cento dos infetados. Há um número que é sempre importante repetir neste contexto: morrem em Portugal, em média, 300 pessoas por dia. Do ponto de vista da mortalidade, os números atuais de covid não teriam qualquer expressão se não estivéssemos a olhar para eles todos os dias à lupa.

Vejamos ontem: 399 infetados. Não é bom, claro. Mas em que se traduziu isso? Apenas mais seis internados que na véspera (agora são 317) e apenas 35 pessoas nos cuidados intensivos, menos três que na véspera.

O verão demonstrou que a propensão para doenças respiratórias é baixa e a imunidade de cada pessoa melhora significativamente neste período. Se houve momento em que a propagação da covid não se traduziu numa situação crítica, foi este. Que importa que haja casos (mesmo que sejam "muitos") se os hospitais estão com baixa ocupação e morreu muito menos gente? Para quê continuar com a métrica alarmista "novos casos" sem veicular em paralelo as suas consequências? Nestas semanas, aliás, mínimas. Ainda alguém se lembra que chegamos a 1302 internados em Abril? Ou que o pico de 271 pessoas nos cuidados intensivos ocorreu no fim de Março? Hoje temos quase mil pessoas a menos nas enfermarias (as tais 317) e quase dez vezes menos pessoas nos cuidados intensivos (35).

Portanto, de que crise estamos a falar neste Verão? Que stress desnecessário sofreram as pessoas que vivem agarradas às máquinas das notícias, a morrer de depressão, em vez de apanharem o único Sol que as pode fazer passar o Inverno com alguma imunidade reforçada?

É aqui que entra a revolucionária tese da epidemiologista Gabriela Gomes e que todos gostaríamos que estivesse certa: a nossa imunidade de grupo atinge-se por uns baixos 7 a 8% da população. Na base destas complexas contas estará o facto de mais de 80 por cento dos assintomáticos não serem um problema e 17% dos infetados conseguirem ficar em casa. Portanto, a imunidade dos suscetíveis à doença alcançar-se-ia não com 60 ou 70% mas apenas com um coeficiente 10 vezes menor.

Ora, isto é lógico e notável porque desmonta duas coisas: começa a ficar provado cientificamente que a esmagadora maioria da população não sofre consequências graves com este coronavírus. No entanto, infelizmente, prepara-nos para uma nova realidade que nos meios científicos está já a ser dada como adquirida: a covid não é o sarampo. Não é uma doença que se tem uma vez e fica resolvida para a vida. O vírus está em mutação permanente. Muito provavelmente vai ficar connosco para sempre, tal como o influenza (que nos deixa gripados todos os anos e também mata). Ou seja, as vacinas vão ser de uso anual.

Além disso, esta estratégia de pânico-covid tem efeitos colaterais gravíssimos, mas desvalorizados. Estamos a multiplicar insuficiências respiratórias em milhões e milhões de pessoas que trabalham oito ou mais horas por dia com máscaras, absorvendo sistematicamente o seu próprio dióxido de carbono em grande escala. Além disso, muitas das máscaras têm filtros de TNT (tecido não tecido), potencialmente tóxicos, que a indústria têxtil andava a retirá-los do contacto com a pele e agora eles são a base de respiração (!) de milhões de pessoas.

Não vale a pena mencionarem-se as óbvias consequências de depressão, desemprego e outros fardos sociais que um excesso de medidas de prevenção pode gerar. Mas ainda recentemente alguns bacteriologistas lembraram que a nossa falta de contacto social nos vai colocar muito mais expostos a todo um outro tipo de doenças comuns, que nem notamos, mas que se podem tornar mais graves por não estarmos em permanente trabalho imunitário face aos contactos virais e bacterianos diários.

Há ainda um outro monstro biológico à espreita - o do avanço das superbactérias provocado por uma generalização de uso de antibióticos em plena covid. É que, apesar de estarmos a lutar com um coronavírus, a fragilização do sistema imunitário tem gerado outras doenças associadas, sobretudo em ambiente hospitalar. Um estudo da Universidade de Trás-os-Montes (UTAD), liderado pela investigadora Patrícia Poeta, acaba de ser publicado no "Journal of Antimicrobial and Chemotherapy" e alerta para a necessidade de uma vigilância rigorosa sobre a quantidade de antibióticos administrados neste período, de forma a não cairmos numa espiral de infeções bacterianas sem resposta farmacêutica.

Todas estas razões nos deviam fazer ponderar sobre como é essencial lavar bem as mãos, usar as máscaras sempre (e só) quando necessário nos espaços públicos, mas libertar a sociedade para uma essencial "normalidade". Esta normalidade, pedagógica e com bom senso, só deveria cancelada por evidente perda de controlo do Serviço Nacional de Saúde.

A confusão entre sintomas de gripe e covid exige, portanto, uma resposta muito inteligente do Ministério da Saúde quanto à facilidade e rapidez de testagem durante o Inverno. Caso contrário as empresas param e a Segurança Social vai pagar a conta de baixas médicas inúteis por supostas prevenções de contágio.

Em conclusão: já sabemos hoje que a chave da crise está nas mãos de Marta Temido e Graça Freitas: testagem rápida, de confiança, acessível de forma eficaz através da linha SNS 24 - de preferência em casa ou em drive-ins. Sem isso, o país colapsa. A palavra não é outra: colapsa. Porque, quem pensa que pode ficar em casa, tranquilamente, com salário garantido ou à conta do Estado, vai perceber que mais tarde ou mais cedo a conta vai chegar. E muito pesada.

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