A TAP é o princípio do fim de António Costa

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No princípio era o verbo. No final há de ser a dívida, estratosférica. Pode António Costa sobreviver a mais esta gigantesca hecatombe tendo debaixo dos pés um Governo minoritário, sequestrado por uma Gerigonça que vota sempre por mais despesa? Nenhum português ficará incólume às consequências de uma tragédia económica tão gigantesca como a da TAP onde, só na primeira tranche, entram 1200 milhões de euros para serem praticamente engolidos de imediato pelos prejuízos deste ano. Junte-se a isto a despesa inquantificável para o SNS e apoio social da covid-19, e não há palavras para explicar o que nos aconteceu em tão pouco tempo.

Resultado: as contas públicas vão voltar a um défice galopante que nos aproxima do fim do milagre dos juros a quase 0% nos mercados da dívida pública. O sucesso de Portugal nos últimos cinco anos acabou. Que rating vamos passar a ter nos mercados internacionais depois disto? Que impostos pagaremos a seguir para compensar esta crise, tendo em conta que não haverá turismo tão cedo? E, agora que já não há Centeno, João Leão vai bater o pé a tanta nova despesa?

Muitos políticos socialistas têm a tentação de imitar o otimismo de Mário Soares e achar que, à frente, tudo se resolverá. Mas, na verdade, quando o país bateu no fundo, Soares deu carta branca a Ernâni Lopes para saímos da bancarrota. Teremos noção de que podemos regressar rapidamente à sombra da falência se António Costa mantiver um estilo de governação com despesa galopante em vez de enfrentar o Bloco e o PCP?

O porreirismo orçamental de Catarina Martins e Jerónimo de Sousa serão um obstáculo ao Orçamento de 2021, daqui a três meses. Nas contas deles (olhando para as sondagens) está na hora de forçar a criação de um Governo de Salvação Nacional (formal ou informal), de Costa e Rio, para tornar claro que a alternativa de poder é afinal o PCP, o Bloco (e, à boleia, o Chega).

O voto contra dos comunistas, ontem, no Orçamento retificativo, é já o espelho do desespero pela sobrevivência política acima de tudo. Como aliás se vê na insistência de realização da Festa do Avante, evento que só um Governo de joelhos, em permanente chantagem, engole e autoriza.

A falência/ressuscitação da TAP repete o drama BES pela segunda vez numa década, só que provavelmente pior - porque a TAP, ao contrário do BES, não ganha dinheiro (e o BES faliu pelas manigâncias de Salgado no GES, o problema não estava na solvabilidade da operação bancária).

Portanto, depois da catástrofe Sócrates-bancarrota-Troika (2011) e do desastre da decisão Salgado/Novo Banco (Passos Coelho, 2014), o céu cai-nos em cima da cabeça pela terceira vez. É demais. É mesmo demais para as nossas vidas. Os mesmos portugueses e empresas que, com tanto esforço pagaram colossais impostos (ou sofreram a pobreza) durante uma década, foram de novo convocados para o mito de Sísifo. A pedra estava já no cimo da colina e víamos finalmente um certo horizonte. Em quatro meses acabou tudo. A pedra está quase tão no fundo como em 2011.

O DN ainda ontem revelou que 40% dos restaurantes e perto de 20% do alojamento turístico preveem fechar no final de Julho, altura em que termina o lay-off simplificado (exatamente porque o Estado já não quer ou não pode gastar mais e tornou as regras do novo lay-off praticamente impossíveis de serem usadas). Para onde caminha a economia real? Qual será o número de desempregados no Outono?

É num cenário tão extremo que o Estado tem de se endividar em mais 1200 milhões de euros para meter na TAP, uma empresa que nos últimos 45 anos (desde 1974) só teve lucros em dois deles. Aliás, mesmo num ano tão excecional como 2019, a empresa teve vendas de 3,2 mil milhões, mas perdeu, mesmo assim, 134 milhões de euros. E o passivo aumentou para 2,7 mil milhões...

A companhia aérea e os seus 10 mil trabalhadores merecem este esforço de todo o país? Se nos lembrarmos do ambiente laboral - e das permanentes greves que levaram a empresa literalmente a esta falência sempre adiada -, muitos portugueses dirão que não. E será realmente uma tragédia se voltarmos à conflitualidade do passado. Ora, vai haver responsabilidade dos sindicatos do PCP e Bloco quando começar a reestruturação e os despedimentos? Impossível. Nenhum sindicato aceita despedimentos sem mostrar "trabalho".

O ministro Pedro Nuno Santos dizia ontem que "o Governo está preparado para enfrentar este desafio". Claro, não pode dizer outra coisa. Mas ninguém está preparado para isto. Os socialistas vão ser humilhados de de cada vez que precisarem de injetar mais umas dezenas de milhões na TAP "para não fechar" - que será tanto pior quanto mais durar a pandemia ou houver greves.

Por fim: fechar a companhia era solução? Também seria uma tragédia. Mas, se depois desta reestruturação, a TAP continuar sem resultados operacionais positivos, laboralmente ingerível e ninguém a quiser comprar, temos de desistir desta TAP e abrir outra mais pequena ou deixarmos de ter companhia aérea. Se o mercado é realmente bom, alguém voará para Portugal. Creio que deveríamos colocar um prazo de dois anos e um teto-limite de injeção de dinheiro a meter na empresa. Isto não pode ser um buraco sem fundo. É que já não podemos mais.

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