Portugal no PISA: novo sucesso em 2018?
Das três, uma: ou Portugal continua a melhorar no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) em 2018 - pela sétima vez consecutiva desde o início das provas trienais - ou interrompe uma progressão ímpar na Europa que está a posicionar o ensino do português entre os mais avançados do mundo. A terceira opção é um improvável descalabro, tantas vezes profetizado e - felizmente - inédito.
As expectativas são grandes, mas também o são as divergências entre algumas das pessoas que melhor conhecem a evolução do sistema educativo nacional (e com as quais tive ocasião de falar recentemente). Segundo João Marôco, analista do PISA em 2000 e coordenador em 2015, o principal fator que explica que Portugal seja "a maior história de sucesso da Europa" é o aumento da "exigência de rigor e prestação de provas, que faz que os professores estejam mais motivados para cumprir objetivos e os alunos mais motivados para aprender".
A investigadora Isabel Flores também atribui protagonismo à motivação, mas discorda quanto às causas e desvaloriza a influência dos sucessivos ministros da Educação. "Mais do que as políticas públicas implementadas por um ou outro governo, o que acontece realmente é esta motivação que vem do seio da comunidade de escola - e da comunidade à volta dela - que está a criar a noção de que a escola pode mudar a vida às pessoas", afirma.
Ambos identificam outros pilares que sustentam o milagre português: por um lado, famílias e alunos mais ambiciosos; por outro, professores mais formados e mais bem selecionados do que há 15 anos (e dispostos a fazer sacrifícios num país "pobre no contexto da OCDE"). Salientam ainda a "universalidade" do pré-escolar (inferior a 50% em 1991 e a rondar os 90% desde 2012) e o desenvolvimento socioeconómico-cultural "muito significativo" no arranque do século.
"Um dos aspetos que Portugal mudou muito nestes anos foi o número de escolas inseridas em meios sociais difíceis com bons resultados", aponta a investigadora. Flores acredita que há uma "mudança silenciosa" em curso num número crescente de escolas, e dá como exemplo o agrupamento de Carcavelos, que tem a taxa de retenção mais baixa do país (cerca de 3% e quase inexistente no ensino básico).
Localizada nas Marianas, um antigo bairro de barracas junto ao mar, a escola secundária de Carcavelos ocupava uma das últimas posições entre mais de 800 escolas na viragem do século. Atualmente é uma das 80 melhores em termos de resultados externos, uma ascensão imparável no país que não para de melhorar.
"Ninguém queria vir para a escola em 2003", rememora o diretor, Adelino Calado. Aos poucos, foram observando e aplicando o que tinha funcionado em várias partes do mundo (Singapura e Finlândia, por exemplo, mas também a Escola Moderna) sem nunca adotar modelos específicos - um corta-e-cola à medida dos problemas detetados. A primeira medida foi acabar com as retenções até ao nono ano, uma decisão malvista pela corrente que equipara chumbo a rigor e exigência, mas que hoje é tida como exemplar pelo Conselho Nacional de Educação.
Não foi a única medida polémica: reduziram a frequência dos testes e suprimiram as aulas à sexta-feira à tarde e os trabalhos para casa. Calado acredita que o sucesso de Carcavelos é, em parte, consequência da melhoria continua das soft skills: ser simpáticos, trabalhar em grupo e saber falar em público, entre outras. "São áreas que trabalhamos desde muito cedo e que se refletem nos alunos quando têm 14 ou 15 anos, a idade do PISA", esclarece.
Nos antípodas desta visão, João Marôco reforça a importância das áreas nucleares do PISA (matemática, leitura e ciências) e alerta sobre "algum facilitismo e dispersão" da atual política educativa que o leva a ser pessimista quanto a uma nova subida no PISA em 2018. Por estranho que pareça, é provável que todos tenham razão, porque as áreas em causa são complementares, não excludentes. A prova está em Carcavelos, uma escola heterodoxa e exemplar, capaz de tratar os alunos com respeito e paciência, potenciando a sua autonomia e responsabilidade, sem descurar a exigência e a ambição. Os resultados mostram isso mesmo.