O líder populista
Qualquer líder populista, além de muitas características específicas, gostaria de provar diariamente ao seu povo que tem algumas capacidades especiais para resolver todos os seus problemas. Como isso não pode ser verdade e também não é lógico, essa é uma das características mais perigosas desse tipo de líder, porque, mais cedo ou mais tarde, colidirá com a sua própria incapacidade de saber tudo, independentemente da robustez da sua popularidade.
As consequências deverão ser pagas por quem elegeu o líder. Essa é a inevitabilidade, mas é questionável que eles entendam a verdadeira razão da sua própria queda. O papel dos meios de comunicação no mundo moderno é muito forte e a exposição diária dos eleitores à informação falsa torna-se uma arma muito poderosa, e é uma arma que está disponível para o líder populista. Além disso, se ele puder impedir qualquer voz que venha do outro lado da cena política, o seu campo de atividades aumenta drasticamente e a autoconfiança chegará a níveis que só poderiam ser encontrados em criaturas não naturais.
Uma das regras básicas da sociedade, a de que é possível gastar-se tudo o que se tem, não existe na cabeça dos populistas, porque eles já provaram que podem fazer mais do que alguma vez esperaram. Independentemente do facto de a eternidade não existir em política, eles parecem acreditar no contrário, assim comportam-se de acordo com isso. Um dos exemplos mais óbvios do comportamento irracional desse tipo de líder é o de aumentar o seu próprio papel em tudo o que acontece ao seu redor, adicionando elementos pessoais a tudo o que puder. Esse tipo de comportamento pode ser facilmente percebido nas relações internacionais e na diplomacia, as quais, em circunstâncias normais, trazem consigo certos elementos da mística, do sigilo e da vida acima da realidade.
Até agora, ninguém se tornou um grande diplomata da noite para o dia. Isso não é possível porque requer experiência, forte capacidade de comunicação, cultura e boas maneiras. Também requer um controlo permanente de cada palavra antes que ela seja pronunciada e o seu entendimento baseado em experiências anteriores e no conhecimento da psicologia, mentalidade e intenções. Qualquer forma de autoconfiança exagerada leva inevitavelmente à negação de qualquer um dos elementos mencionados, devido à intenção de inserir a realidade, que é suposto que entendamos, num quadro já formado na mente do líder onisciente. Além disso, deve-se acrescentar a isso uma tentativa de alguns políticos de mostrar influência pessoal, propagandeando um tipo de amizade e respeito imaginários entre os líderes, chamando-se pelo primeiro nome, exibindo publicamente familiaridade, explicando ao público o que o outro lado estava a tentar dizer em vez do que disse.
Pode-se afirmar que o volume de danos que o líder populista pode causar ao seu próprio povo é proporcional à quantidade de autoconfiança infundada que ele inevitavelmente desenvolve. Esta é a situação em que ele simplesmente não consegue ver nenhuma competição no horizonte, o que o forçaria a estar atento àquilo que está a fazer.
A impressão de familiaridade é bem conhecida da diplomacia há muito tempo e, por si só, não tem valor, ou muito raramente o tem. Às vezes, os líderes mundiais precisam de mostrar a importância do seu papel nas relações internacionais com a maneira como se dirigem uns aos outros. O seu comportamento nas reuniões diplomáticas é direcionado ao seu próprio povo, em vez de se concentrar no cumprimento dos interesses nacionais, que precisavam de ser claramente definidos anteriormente. Essa seria a situação ideal, que muitas vezes não existe na realidade. De qualquer forma, a familiaridade entre os líderes pode existir, mas raramente é pública, porque, se for pública, torna-se uma ferramenta de autopromoção, uma das mais simplórias e grosseiras.
Tendo tudo isso em mente, entre outras coisas, o populismo é uma negação da diplomacia normal ao mais alto nível, que pode ser a mais perigosa, especialmente para aqueles que são representados pelo seu líder.
Tudo aqui pode parecer bastante abstrato, mas não é. É muito mais simples na realidade e é fácil de reconhecer. Nesse tipo de situações, e dependendo do parceiro na reunião, a autoconfiança não implica a confirmação do seu valor, torna-se antes a prova do vazio e da imprevisibilidade das ações futuras. Essa é a pior característica que se pode mostrar na política externa, especialmente se não se for a potência mais forte do mundo.
Antigo embaixador da Sérvia em Portugal e investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE.