As Perspetivas do Médio Oriente
O Médio Oriente, uma das regiões mais turbulentas do mundo, passa há anos por crises, violência e guerras. As tensões são geradas localmente, inclusive por controvérsias relacionadas com a sua história moderna, mas também pelo desejo das grandes potências regionais e mundiais de obterem mais influência do que já possuem.
Geralmente, a explicação reside no facto de o Médio Oriente possuir reservas enormes de petróleo e qualquer disrupção na sua exploração resultar no aumento do envolvimento dos países mais poderosos do mundo. Em parte, isso está correto, mas não representa o quadro completo.
A morfologia política do Médio Oriente de hoje foi definida após a Primeira Guerra Mundial, quando o Império Otomano perdeu os seus territórios e o mundo árabe foi dividido em Estados com mais ou menos independência. Ao mesmo tempo, o processo de formação das nações começou em paralelo com o traçar de novas fronteiras, mas sempre com alguma insatisfação resultante das soluções escolhidas. As grandes potências desempenharam o papel mais importante nesse processo, tentando comprar a paz aos líderes locais ou impostos com as concessões territoriais, nível de independência e muitas promessas ocas.
O processo de chegada da população judaica ao Mandato Britânico da Palestina (durante os tempos da Liga das Nações, a Palestina era governada pelo Reino Unido) foi outro fator. Foi, por vezes, usado por muitos como o elemento de unificação da população local no sentido negativo, cultivando a ilusão de que o futuro Estado judeu poderia ser rejeitado e "empurrado para o mar", como costumavam dizer alguns líderes árabes.
Hoje, a situação no Médio Oriente está a tornar-se extremamente complicada e é seguro dizer que muitos não conseguem entender o que poderia e o que não poderia ser feito. O principal problema é que alguns decisores importantes pertencem, muitas vezes, ao grupo que não sabe muito.
No cerne do problema está o conflito israelo-palestiniano, que ocasionalmente recebe mais atenção durante o primeiro mandato dos presidentes americanos. No segundo, eles geralmente perdem todas as esperanças, tentando manter o conflito sob controlo. Depois, o Iraque é o segundo problema, país profundamente dividido após o derrube do regime de Saddam Hussein que trouxe à tona velhas divisões entre sunitas e xiitas. Entre esses grupos religiosos, há a nova geração de iraquianos, que gostariam de viver melhor, sem corrupção, e de ter emprego e andar livremente pelas ruas das suas cidades.
Existem algumas semelhanças no Líbano, que está lutar com dificuldades para conseguir um governo que tenha credibilidade entre as gerações libanesas mais jovens, sem nenhuma afiliação política especial, mas apenas pela melhor qualidade da vida quotidiana.
A Síria é muito mais complicada e os seus problemas estão longe de serem resolvidos. O Estado Islâmico está derrotado, mas após a guerra travada contra ele, todos os participantes estão a tentar consolidar a sua posição no país, especialmente as potências estrangeiras que aproveitaram as divisões locais com sucesso para estabelecerem a sua presença. O equilíbrio de poderes precisa agora de ser definido novamente, entre estrangeiros e parceiros locais, mas o problema é que existem muitos intervenientes que não permitirão que a Síria se torne um lugar tranquilo antes de conseguirem algo para si próprios. O preço desse tipo de política é pago pesadamente pelos civis.
Nenhum destes problemas tem hipótese de ser resolvido em breve e não existe um plano realista que todos os envolvidos possam discutir. As grandes potências estão a mudar as suas prioridades e estão à procura de medidas para congelar a situação, esperando que isso traga alguma estabilidade e retire o Médio Oriente das notícias de última hora da comunicação social.
As pessoas daquela região estão obviamente forçadas a esperar e a viver com o mínimo de esperanças para sobreviverem e alcançarem tempos melhores.
Antigo embaixador da Sérvia em Portugal e investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE