A Tia de Costa
Por muito tempo, a Comissão era o nosso "amigo de Bruxelas". Fábrica e distribuidora de fundos, era como que um instrumento de correção do poder diferenciado dos países. A retórica de solidariedade construía então a narrativa de uma Europa que almejava o nivelamento das condições de vida - a tal coesão. Esse mundo mirífico acabou.
De "bom da fita", à Comissão europeia de hoje está cometida pelos Estados a tarefa de auxiliar o BCE na gestão do euro - esse heterónimo do marco, que os alemães um dia dispensaram, para obterem os derradeiros galões europeus da paz, a unificação, o alargamento e o mercado privilegiado onde assenta toda a sua riqueza. Essa gestão rege-se por uma ideologia, e ai de quem a contestar.
Margaret Thatcher disse um dia que "there is no alternative" ao modelo liberal, ao mercado puro e duro. A fórmula ficou conhecida por TINA e enforma a filosofia que hoje prevalece nas instituições europeias. Foi a TINA que moldou o "memorando de entendimento" e, por cá, a TINA foi a ideologia da coesa coligação troika-PSD-CDS que governou Portugal e ainda hoje coloniza a mente da maioria dos nossos comentadores económicos.
Os gregos aprenderam na pele que é muito arriscado enfrentar o "touro" europeu de frente. António Costa fê-lo "de cernelha" e, com arte de lide, decidiu provar que a TINA podia começar a ser contrariada. Jogando as parcelas de forma diferente, fazendo essa coisa diversa (inesperada?) que é uma política fiscal de esquerda, conseguiu levar a água ao seu moinho. Percebeu-se o incómodo do ortodoxo báltico, que lia o papel da Comissão com um dos olhos em Berlim e outro em Madrid, ao ter entendido que, porque agora temos uma política europeia, temos outras armas, noutros tabuleiros, com que Bruxelas deve contar. Quem sabe se António Costa não encontrou uma TIA ("there is alternative")?
Embaixador