11 de Setembro e o que ficou por fazer em 19 anos
Em Portugal, salta à vista uma falha gritante neste contexto e que é a seguinte. 19 anos após acontecimento que marcou indubitavelmente uma mudança de paradigma a todos os níveis, nenhuma universidade portuguesa teve a... nem sei como lhe chamar! Será audácia, será coragem ou será atrevimento? De criar de raiz uma Licenciatura/Mestrado de Estudos Islâmicos, Estudos Árabes, Magrebinos, Mediterrânicos, ou algo do género, aproveitando a moda e o momento que se seguiria e que se poderia hoje comparar ao aumento súbito que os grupos desportivos de bairro tiveram em atletas, logo após a Medalha de Ouro ganha por Carlos Lopes nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984. O meu espanto, é que o momento, há 19 anos, seria de encaixe financeiro garantido para a Academia ao explorar este filão que se abria aos olhos de todos, mas a velha ordem persiste em impor-se nesta "Albânia de intranet". Sim, temos Twitter mas parece que é só para brincar com a vizinhança intra-bairro, que a Baixa-da-Banheira não comunica com a Alta, tribo desconhecida e tudo o que é desconhecido evita-se, quando não, elimina-se.
Em rigor, há uma Universidade privada no Porto que tentou rasgar esta resistência dos centros de decisão alfacinhas e apresentou Licenciatura cujo nome, salvo erro era, Relações com Mundo Árabe e Islâmico (2008). Em rigor também, já não existe, não sabendo bem porquê, mas desconfiando que em tudo terá uma vez mais a ver com questões tribais do reconhecido Estado-Nação.
Por outro lado, os cursos de Relações Internacionais, regra geral, não apresentam disciplinas, por opcionais que sejam, de Língua Árabe, Magrebe, Médio Oriente, Sahel e/ou Mediterrâneo, que permitam uma pré-especialização antes da especialização, que será sempre consolidada no Mestrado. Claro que Pós-graduações, Mestrados e Doutoramentos na Área Securitária há muito que viram incremento nos últimos 19 anos, os quais permitem, através da Dissertação final abordar o inabordável de forma curricular até agora.
Em conclusão, o que quero dizer, é que nos últimos 19 anos se perdeu pelo menos uma geração, da qual faço parte, de potenciais arabistas e islamólogos, que Portugal insiste em não produzir. Como é que eu me safei? A custo próprio e não falo de dinheiro, tentando colmatar lá fora o que não há cá dentro. Por isso fui para Moçambique, iludido com a infalibilidade da importância que o "Islão Lusófono" teria para a nossa Academia, no paradigma pós-pós-moderno. Quase me ri, quando cá cheguei e me disseram "não tem interesse", o que traduzido na Aldeia significa "não tens padrinhos". Como continuo a acreditar que vivo numa Cidade, insisti e fui para Marrocos e aí, fruto da Primavera Árabe e das novas tecnologias adquiri o patamar do "jornalismo operativo", o que até me permitiu publicar um livro. Nada mal, para um plebeu em terra de "Barões assinalados"! O problema é o custo e esse paga-se em tempo e 19 anos tanto são uma vida como duas gerações e por muito que oiçamos Tony de Matos, sabemos que o Tempo não volta para trás!
Politólogo/Arabista