O Google, a Palestina e o "Soft Power"

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O Google apagou a Palestina do seu "Google Maps", o que provocou mais uma onda de indignação global materializada na petição "Google: Put Palestine on your Maps!" com mais de 1 milhão de assinaturas. A Apple Maps também é acusada do mesmo.

O "fenómeno" é reincidente, em 2016 a Google foi acusada do mesmo. Em rigor, não será bem assim, o que a Google obliterou foi o nome "Palestina", já que uns tracinhos a cinzento quase invisível continuam a delimitar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, diluindo-as no restante território entre o rio Jordão e o Mediterrâneo. Exactamente da mesma forma que o Governo do Povo Eleito de Deus se refere à Judeia e Samaria, evitando reconhecimentos tácitos ou menos expressos. A Diplomacia e a Política são toda uma linguagem e compilação de códigos pré-estabelecidos para evitar mal entendidos.

A Google, que entrou nas nossas vidas como os textos religiosos, já que hoje nos parece (aos mais velhos) que sempre esteve entre nós e aos mais novos sempre esteve, tem o Poder omnipresente de escolher as verdades que se vão entranhando, mais o "poder do botão", o poder da tecnologia que proporciona aos gurus de Silicon Valley a "almofada" da certeza de que estão a contribuir para um Mundo melhor e sobre a qual deitam a cabeça ao final do dia.

Concretizando a "parábola" anterior, a Google foi um instrumento fundamental no processo da Primavera Árabe egípcia. Quem não se lembra da importância de ter Wael Ghonim, o egípcio que dirigia a Google para o Médio Oriente e Norte de África, engajado na causa da Liberdade e da libertação, para o sucesso da Revolução que conduziu à destituição do "eterno" Hosni Mubarak. Neste caso o "poder do botão" foi a Google servir de plataforma alternativa ao previsto encerramento pelas autoridades do acesso à internet, logo ao Facebook e restantes redes sociais não existentes ainda nesses gloriosos tempos de proximidade social e esperança! Face a esse "shut down" digital, o canadiano Blackberry era o único telemóvel que, através da Google conseguia aceder ao Facebook, "ferramenta do éter" verdadeiramente mobilizadora e catalisadora da Revolução. Não consigo detalhar tecnicamente esta "entente Google-Blackberry", pois não pertenço à "seita digital", mas sei que foi assim que aconteceu!

O "soft power" é isto, suave como o português (falo de cigarros) e poderoso como o cancro, que só se revela décadas depois!

Politólogo/Arabista

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