Invasores
Nicolás Maduro viu reforçado o estado de emergência pelo Supremo Tribunal, anteriormente rejeitado pela Assembleia Nacional, e prepara-se para iniciar um exercício militar sem precedentes, condicionando as oposições e fazendo crer que a Venezuela está à beira de uma invasão. Sabemos bem que o invasor predefinido por Maduro são os EUA, o mesmo país que durante todo o chavismo foi o maior parceiro comercial de Caracas e onde mora um presidente que, como se tem visto, gosta de invadir países enquanto toma o pequeno-almoço. A escapatória do "inimigo externo" tem barbas, mas não vai travar o percurso do referendo para destituir Maduro, rumo legítimo e juridicamente imbatível. Estamos a assistir ao deslaçar de um regime em que o líder tenta salvar a pele por todas as vias que possui. Maduro rejeita, desde dezembro, a autoridade política de uma ampla maioria parlamentar conquistada nas urnas, quando passou todo o chavismo a reger a legitimidade das suas decisões nos resultados eleitorais. Aqueles que costumam defender a natureza democrática do regime para justificar todo e qualquer fim têm aqui o exemplo do respeito que a democracia merece a Nicolás Maduro. Além disto, o regime faz passar uma ideia de coesão interna, alimentada com o fantasma externo, premissa que nunca passou de ilusão desde que Maduro sucedeu a Chávez. Desde logo, porque nunca lhe assistiu qualquer pedigree militar, coisa cara a muitos setores que fundaram, com Hugo Chávez, a república bolivariana. Depois, a gestão política e económica de Maduro só por milagre não fez que os militares que o desdenham o tirassem do cargo. Esse milagre chamou-se aumentos salariais e privilégios de Estado. Só que com os cofres a secar isto pode estar por um fio: há já generais e ex-ministros fiéis a Chávez a criticá-lo publicamente. Maduro ainda vai concluir que, afinal, o "invasor" está mas é dentro de casa.