O mercado terrorista
Os ataques em Jacarta por células do ISIS radicadas no Sudeste Asiático mostram bem até onde vai o arco geográfico do grupo com sede na Síria. O primeiro erro de análise é pensar que o ISIS veio apenas redefinir as fronteiras do Médio Oriente, abdicando de concorrer com o terrorismo contemporâneo noutras paragens, como o Sudeste Asiático (Indonésia, Malásia, Filipinas e Tailândia), cujos contingentes nacionais na Síria/Iraque andam entre 600 e mil homens. Essas duas etapas são complementares: é certo que Iraque e Síria são o centro nevrálgico do projeto geopolítico do califado, mas a partir do momento em que os derrubes de Bagdad e Damasco se tornaram mais difíceis passou a ser também prioritário não deixar a Al-Qaeda isolada no mediático mercado bombista. É isto que liga Paris a Jacarta: a necessidade de potenciar as células locais em proveito da patente catastrofista. Aliás, a concorrência surge já na forma como variadíssimo grupos autóctones - da Nigéria ao Egito, da Líbia à Indonésia, da Índia às Filipinas - têm jurado fidelidade ao ISIS e aberto cisões internas. Um bom exemplo foi o que aconteceu à Jemaah Islamiyah, poderosa organização indonésia espalhada na região e ligada à Al-Qaeda, que viu um dos seus dirigentes furar a tradição e fundar uma ala fiel ao ISIS, a Jemaah Ansharut Tawhid. O segundo erro é olhar para estes grupos terroristas como braços armados de um exclusivo conflito civilizacional anti-Ocidente. Claro que há um ódio ao que o Ocidente representa e defende nos planos da liberdade e da postura internacionalista, mas a esmagadora maioria dos ataques dá-se em países muçulmanos. Ora, isto revela, acima de tudo, o choque em curso dentro da própria civilização islâmica. Apesar das tragédias que nos esperam, o terrorismo só sairá derrotado à medida que as nações ocidentais e as restantes se aproximarem.