Eurobama
Obama pode ter idealizado uma recentragem para a Ásia-Pacífico, mas é na Europa que vai acabar o mandato. A crise da zona euro, o putinismo galopante na Ucrânia e noutras paragens da UE, a ameaça do brexit e o arco de insegurança mediterrânico, não validaram um suposto pós-europeísmo de Obama. A crítica a fazer-lhe não é ter estado ausente, mas não ter estado no modo e no tempo certos. Podia ter colocado um peso--pesado na pasta da Europa tanto no Departamento de Estado como no seu staff, influenciado com outro senso a gestão da crise grega, apoiado mais a Ucrânia no rescaldo da guerra na Geórgia e, ainda, ter partido mais cedo para as negociações do TTIP. Assim, nesta reta final, resta--lhe vir pessoalmente à Europa dizer não ao brexit e sim ao TTIP, gerir como pode o bafo de Moscovo e esperar que Bruxelas, Berlim e Atenas se entendam para não incendiarem outras capitais. No entanto, fica claro que as paragens em Londres e Hannover dotaram o comércio livre como pilar da afirmação de Washington, numa fase em que o acordo transpacífico já está assinado. Se o TTIP for fechado até final do mandato, - para isso precisa do Reino Unido na UE e do apoio de Merkel - os EUA ficarão (agora sim) como pivô entre o Pacífico e o Atlântico, liderando uma aliança estratégica, comercial e de segurança com 40 países, mais de um bilião de pessoas e 60% do PIB mundial. Ora, as regras comerciais e políticas desta geografia dotá-la-ão de melhores recursos para influenciar a transformação da ordem internacional em curso para uma multipolaridade efetiva, assegurando que esta ocorre com o dedo do Ocidente e não com a sua abstenção. Mesmo que os EUA diminuam o seu poder relativo por via da ascensão da China, a ordem ocidental pode continuar a ser preponderante neste século. É cada vez mais fundamental que assim seja.