EUA, a grande potência europeia
A NATO pode ter muitos defeitos mas ainda é o único sítio onde os europeus pensam estrategicamente e o culpado disso chama-se EUA, o garante da segurança nacional de cada um dos aliados e, por via disso, o cimento entre Leste e Ocidente, Norte e Sul, pequenos e grandes, liberais ou com tendências mais autoritárias. O momento pós-brexit acrescenta relevância política à reunião de Varsóvia, dado que Londres permanecerá lugar-tenente de Washington no único fórum ocidental a que, aparentemente, dá prioridade. Neste sentido, a NATO pode assumir um papel ainda mais político do que aquele que foi ensaiando desde a implosão da União Soviética, por ser o único palco no Ocidente onde os seus membros discutem os vários níveis da crescente insegurança europeia (militar, económica, energética, humana, tecnológica), tendo oficialmente o mesmo peso (as decisões são todas por unanimidade), mas reconhecendo a primazia de um só, ainda por cima não-europeu. É aqui que Obama e a próxima administração-espero-que-Clinton podem fazer muito mais para evitar que a Europa não pegue fogo de vez. Primeiro, influenciando de outra maneira a dureza das políticas financeiras, moldando inflexibilidades nos mais fortes e desleixos nos mais vulneráveis. Tivessem o Tesouro e a Casa Branca exercido uma diplomacia mais assertiva nestes anos de gestão errática na zona euro e esta talvez não precisasse de tanta convulsão. Segundo, condicionando a proteção da NATO (o reforço militar no Leste está em marcha) aos países de Visegrado em função do seu estrito compromisso com a democracia liberal e a separação de poderes. Por fim, moldando o afastamento continental de Londres para uma solução sensata capaz de inverter o sentido da desagregação europeu. Os EUA vão ter de voltar a ser uma grande potência europeia, sob pena de ver o continente partir-se em cacos nas suas mãos.