Rohingyas: o que menos interessa é como se diz
Sabemos muito pouco sobre os rohingyas. Até a forma como dizemos o seu nome varia de jornalista para jornalista, de ativista dos direitos humanos para ativistas dos direitos humanos, de político para político. Serão pouco mais de um milhão na Birmânia, ou eram antes de começar a atual vaga de perseguições, com assassínios, espancamentos e violações. Costumam ser sintetizados como um grupo étnico que vive no estado birmanês de Rakhine, mas que não são reconhecidos como uma das 135 comunidades oficiais do país. Deles também se sublinha que são muçulmanos, mas missionários jesuítas disseram-me que há também uma minoria de rohingyas cristãos. O que já quase toda a gente saberá é que estão a ser expulsos das suas aldeias, obrigados a lançar-se ao mar em frágeis barcos ou a refugiar-se no vizinho Bangladesh, pobre e solidário na medida do possível. E que quem os agride é o exército e a polícia, pertencentes à maioria budista, perante a estranha passividade de Aung San Suu Kyi, Nobel da Paz e hoje líder da Birmânia, no poder depois de anos na prisão graças a um pacto com os generais.
Nos últimos tempos tem-se falado menos de refugiados, sobretudo dos que atravessam o Mediterrâneo para chegar ao eldorado europeu. Fala-se menos porque são menos a ousar cruzar o mar, mas nem por isso deixa de morrer gente, às vezes famílias inteiras. Dos rohingya, que vivem tão longe, o risco é deixar-se de falar de vez. Como se a sua tragédia, de repente, deixasse de existir. Para que isso não aconteça, para que as nossas consciências não possam ficar descansadas, são importantes reportagens como a que Helena Ferro de Gouveia assina hoje no DN, ela que esteve no campo 12, em Balukhali, no Bangladesh. É um trabalho especial feito para o nosso jornal, um grito de alerta para que Portugal (como o resto do mundo) não se esqueça dos rohingyas, pronuncie-se a palavra como se pronunciar. Por agora, é sinónimo de sofrimento.