Quebrar o ciclo para salvar vidas

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Perseguir, agredir verbal e fisicamente, controlar mensagens, telefonemas e páginas das redes sociais, pressionar para ter sexo. Seria de pensar que é uma lista de comportamentos que, em 2018, a maioria dos portugueses considera inaceitáveis. Acontece que, mesmo no namoro e entre os mais jovens, estas são na verdade situações encaradas com absoluta normalidade. Há duas semanas, dava-se eco de um relatório arrasador para o Estado, que mostrava como, em poucos dias, falhas básicas das entidades oficiais tinham acabado na morte de pelo menos duas mulheres, vítimas de violência doméstica, a quem a ajuda pedida não chegara. As estatísticas mostram que mesmo 18 anos corridos desde que este se tornou crime público não há denúncias suficientes, de vítimas ou de terceiros. Por falta de meios de subsistência, por vergonha ou simplesmente por quererem acreditar que as coisas vão mudar, as vítimas de ameaças, de ofensas e de outras agressões, é sabido, continuam a demorar demasiado tempo a denunciar os agressores.

Os números ontem divulgados são chocantes porque revelam que pouco aprendemos com a realidade que todos os dias nos é posta diante dos olhos. Se 70% dos adolescentes validam comportamentos claramente abusivos como situações regulares num namoro, isso é sinal de que a sociedade está a falhar. De que ainda não é claro para muitos onde ficam as fronteiras da individualidade e do respeito mútuo. De que estamos a educar as novas gerações na perpetuação dos piores hábitos. Em pouco mais de uma década, 500 mulheres morreram e os dados mais recentes apontam para 14 575 miúdos sinalizados por exposição a situações de violência doméstica. Os números têm um lado positivo: mostram que há maior sensibilização e que os sinais de alarme soam mais vezes. Mas também demonstram que é preciso fazer muito, muito mais para que a realidade se altere. Há que quebrar o ciclo para começar a salvar vidas.

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