O desplante dos sindicatos
Todas as greves são legítimas? Como princípio abstrato sim, mas isso não significa que as reivindicações de quem convoca uma greve sejam todas justas. Quem trabalha no setor privado, onde os salários baixaram como consequência da crise, não deixará de considerar estranho que a função pública pretenda um duplo aumento, pelo lado da reposição das carreiras e pelo lado da atualização salarial. A verdade é que é uma reivindicação justa, no sentido de que firmaram um contrato com o Estado e querem que ele seja cumprido. Pode é não haver dinheiro para tudo. E não há!
Agora olhemos para a greve convocada pelos sindicatos de professores. A primeira coisa que importa dizer é que uma greve para um dia de exames é uma falta de solidariedade evidente com os alunos que programaram a sua vida para este momento e, portanto, não merece a solidariedade de ninguém. Mas há pior, no sentido de que uma das reivindicações é quase uma ofensa a todos os outros trabalhadores. Querem a reforma aos 60 anos com 36 anos de serviço. Isso mesmo, os papalvos que trabalhem até depois dos 66 anos, por agora, com mais de 40 anos de descontos, mas os senhores professores precisam de ir descansar mais cedo.
Esta reivindicação dos professores acontece, aliás, numa altura em que os sindicatos das diferentes corporações parecem ter entrado numa corrida a ver quem chega primeiro ao pote. Parecem ansiosos com o que já foi conseguido em matéria de recuperação económica. Não querem acabar com o défice para podermos começar a pagar a dívida. Não querem evitar nova crise e nova dose de austeridade. O que querem é que lhes seja dado tudo. E até já se acham no direito de ir para a reforma mais cedo do que todos os outros, descontando menos tempo do que todos os outros. Que desplante!