A formiga tem catarro!
A ideia de que o CDS um dia pode ser maior do que o PSD não é inverosímil. Já para as eleições de 2019, está perto do delírio político mas, no prazo de duas ou três eleições, temos de aceitar como possível, tendo em conta aquilo que vimos acontecer por essa Europa fora.
O PSD defende-se do ataque cerrado que lhe está a ser movido pelo parceiro natural, argumentando que Assunção Cristas pagará caro o excesso de ambição porque lhe vão cobrar a meta que impôs para si própria. Erro de análise. Se, no lugar de jornalista, fosse conselheiro político, teria aprovado a jogada da líder do CDS convidando-a, no entanto, a acrescentar no seu discurso a ênfase numa proposta política em que o seu partido é claramente alternativa ao statu quo promovido pelo Bloco Central e aceite pelas "esquerdas encostadas". Ganharia aderência à realidade.
Cristas promove uma viagem a Marte, sabendo que terá uma grande vitória chegando à Lua. Hoje, o que separa eleitoralmente o CDS do PSD, nas sondagens, são mais de 20 pontos percentuais. Entre o melhor resultado do partido de Cristas e o pior do partido de Rio a distância não difere muito. Por estranho que possa parecer, a ambição de Cristas é levada a sério por muitos eleitores de centro-direita. Se encurtar para metade a diferença que separa o CDS do PSD, Cristas não cumpriu a ambição que apregoa mas terá entrada direta para a história do partido como tendo protagonizado o melhor resultado de sempre. E, com esse resultado, entroniza-se líder do CDS... até ao dia em que a sua ambição, de todo, não for possível concretizar.
Foi ao PSD de Passos Coelho que Assunção Cristas começou a ganhar terreno, com particular destaque para Lisboa por desistência dos sociais-democratas, mas é o PSD de Rui Rio, ao afirmar-se de centro-esquerda e do diálogo responsável, que permite a este CDS - Partido Popular reinventado por Paulo Portas - fazer voz grossa e afirmar-se como líder da oposição ao modelo socialista. A formiga já tem catarro? Tem! Mas os eleitores são formiguinhas que gostam de acreditar que têm quem os represente.