Onde morre um hospital

Se a construção do Novo Hospital do Oeste ditar o desaparecimento do Centro Hospitalar de Caldas da Rainha, há uma luz que se apaga sobre este concelho e sobre a região, que nada poderá substituir.

É, por isso, com muita apreensão que os caldenses observam uma concertação a sul, associada a uma Lei da Rolha sobre a sua liberdade de expressão quanto à equação que deve ditar a localização deste relevante equipamento.

Quem defende a construção do Novo Hospital do Oeste a sul, num território sem infraestruturas de apoio, tradição em cuidados hospitalares e capacidade instalada para acolher milhares de profissionais, escuda-se num estudo omisso em quase tudo o que não diga respeito a distância e tempo de acesso sem, contudo, aduzir novos argumentos.

Em qualquer divergência de opinião, o ataque à credibilidade do oponente é uma arma eficaz para nos furtarmos ao escrutínio democrático das ideias. E é isto, diga-se, que se vem passando no debate em torno da construção do Novo Hospital do Oeste.

Senão, vejamos: os caldenses são acusados de bairrismo, por defenderem a construção do hospital num terreno parcialmente localizado no seu concelho. Ora, seria interessante ver o que fariam outros perante a decisão de ter de abdicar do principal motor de desenvolvimento para beneficiarem de cuidados de saúde.

"Caldas da Rainha é hoje o concelho do território português sobre o qual paira a maior ameaça ao pleno desenvolvimento socioeconómico: a morte de um hospital."

Caldas da Rainha e Óbidos são acusados de romperem um harmonioso consenso no oeste, porque o resultado do estudo lhes é desfavorável. Contudo, as declarações dos autarcas em ata da OesteCIM indiciavam já que a unanimidade quanto à contratação do estudo não se repetiria mediante o que fossem os resultados do mesmo. Em segundo lugar, decisões conciliadas politicamente, num determinado quadro de correlação de forças, sem a necessária participação cívica, esbarram frequentemente na indignação das populações, a quem a realpolitik nada diz. É isto que se está a passar e que não pode ser apoucado na ótica de que "se o povo não concorda com a conciliação dos seus representantes, mude-se o povo".

Depois vêm os intocáveis argumentos científicos, isto é, quem são as populações de Caldas da Rainha - e já agora Óbidos, Rio Maior e diversas freguesias de Alcobaça e Peniche - para se oporem às conclusões de um estudo técnico? Ora, nenhum estudo, por mais científico e técnico que seja, é insuscetível de contraditório, sobretudo se é parco nos critérios que conduziram às conclusões apresentadas.

Há décadas que decisões políticas desta relevância assentam na sua maioria, para não dizer totalidade, na adesão ao óbvio e, sobretudo, ao superficialmente óbvio, sem antecipar as respetivas consequências.

Localizar o maior hospital entre Lisboa e Coimbra, à beira da capital, colhendo os frutos de satisfazer uma grande faixa de população - e já agora, diga-se, de eleitores - só é bom no plano do taticismo imediato, mas é péssimo no plano do acesso aos cuidados de saúde, da coesão territorial e do desenvolvimento harmonioso do território. É uma decisão que contribui para o aumento da obesidade mórbida da cintura de Lisboa, enquanto espeta uma lança certeira no coração do desenvolvimento da Região Oeste, sobretudo a norte.

Caldas não se renderá à advertência de que o rompimento do alegado consenso resultará no adiamento ad eaternum da decisão política. Não por obstinação ou bairrismo, mas porque discorda do rumo do processo decisório, que considera irrefletido e, sobretudo, porque não acautela a representatividade das populações do oeste norte na maior decisão sobre as suas vidas que se tomará neste século.

Vereadora da Cultura, Educação e Ação Social na Câmara Municipal de Caldas da Rainha

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