Ondas de calor – recomendações para a população

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Uma onda de calor, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), "ocorre quando num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos a temperatura máxima diária é superior em 5ºC ao valor médio diário no período de referência".

As ondas de calor para além de propiciarem o risco de incêndio, têm por si só um grande impacto negativo na saúde humana, provocando alterações ao nível do seu estado fisiológico, em particular nos grupos de população de risco mais frágil.

A exposição das pessoas a períodos de calor intenso de mais de 35 graus durante vários dias constitui uma agressão para o organismo, podendo conduzir à desidratação, ao agravamento de doenças crónicas, a um esgotamento ou a um golpe de calor, situação muito grave e que pode provocar danos irreversíveis na saúde, ou inclusive levar à morte.

Mesmo com tratamento intensivo as doenças provocadas pelo golpe de calor têm um prognóstico reservado e uma taxa de mortalidade elevada, atingindo 33% ou até 47% quando existe disfunção orgânica. Para além do que foi dito, 20% a 50% das vítimas de golpe de calor sobrevivem com sequelas neurológicas, e estas pessoas correm o risco de morrer nos próximos 12 meses após a doença.

Em situações extremas de exposição ao calor intenso, particularmente durante vários dias consecutivos, podem surgir doenças relacionadas com o calor das quais relembro três: as cãibras por calor, o esgotamento devido ao calor e os golpes de calor, situações que pela sua gravidade podem obrigar a cuidados médicos de emergência.

São mais vulneráveis aos efeitos nefastos do calor as pessoas com síndrome de fragilidade, imobilidade, dependência, falta de autonomia física e psíquica e aquelas que sofrem de isolamento social.

Essas pessoas fazem parte dos grupos de risco como por exemplo são as crianças nos primeiros anos de vida; as pessoas idosas (particularmente as que têm mais de 85 anos); os portadores de doenças crónicas (nomeadamente doenças cardiovasculares, respiratórias, renais, diabetes, alcoolismo); as pessoas obesas; as pessoas acamadas; as pessoas com problemas de saúde mental; as pessoas a tomar alguns medicamentos (como os anti-hipertensores, antiarrítmicos, diuréticos, antidepressivos, neurolépticos, entre outros); os trabalhadores expostos ao sol e/ou ao calor; as pessoas que vivem em más condições de habitação e as que vivem na rua.

A morbilidade e a mortalidade associadas às ondas de calor podem ser prevenidas, através da adoção de medidas comportamentais individuais e coletivas, do desenvolvimento de sistemas de alerta e planos de intervenção e da redução do stress térmico no ambiente. Trabalho exemplarmente feito por algumas autarquias por esse país afora. Ondas de calor potenciam doenças crónicas e infeção pela covid-19.

A diretora-geral da Saúde refere que as "temperaturas elevadas podem agravar o impacto da covid-19 por descompensação de doenças crónicas" como insuficiência renal e cardíaca, diabetes, doença pulmonar crónica e patologias múltiplas e em pessoas idosas".

Investir nas medidas preventivas comportamentais parece ser decisivo para controlar o risco de adoecer e morrer pelas ondas de calor, mas também por serem medidas simples, claramente mais eficientes e mais fáceis de aplicar. A divulgação de mensagens simples com conselhos práticos, difundidas nos noticiários e imprensa quando há previsão de uma onda de calor, podem constituir uma forma eficaz de minimizar os efeitos do calor.

Intervir com medidas para modificar o comportamento, sobretudo nas populações de alto risco, pode diminuir o impacto das ondas de calor.

A educação da população é essencial e deve incluir recomendações como procurar locais climatizados para utilização coletiva (museus, cinemas, centros comunitários, transportes, centros comerciais, bibliotecas), diminuir a atividade física durante as horas de maior calor, aumentar o consumo de líquidos sem açúcar, sem álcool e principalmente ser solidário e compassivo, verificando o bem-estar de familiares e vizinhos idosos e mais vulneráveis.

As autoridades de saúde recomendam as seguintes 18 medidas mais importantes: aumente a ingestão de água, ou sumos de fruta natural sem adição de açúcar, mesmo sem ter sede e evite bebidas alcoólicas: faça refeições frias, leves e coma mais vezes ao dia; utilize roupa larga, que cubra a maior parte do corpo, chapéu de abas largas e óculos de sol com proteção UVA e UVB; mantenha-se em ambientes frescos e arejados, pelo menos duas a três horas por dia; evite a exposição direta ao sol, principalmente entre as 11 e as 17 horas; utilize protetor solar, com fator igual a 50 ou pelo menos superior a 30 e renove a sua aplicação de duas em duas horas e após os banhos na praia ou na piscina; evite atividades que exijam grandes esforços físicos, nomeadamente desportivas e de lazer no exterior; se trabalhar no exterior, hidrate-se frequentemente, proteja-se com roupa larga e chapéu e trabalhe acompanhado porque em situações de calor extremo poderá ficar confuso ou perder a consciência; escolha as horas de menor calor para viajar de carro e não permaneça dentro de viaturas estacionadas e expostas ao sol e ligue o ar condicionado se tiver; tenha especial atenção com doentes crónicos, grávidas, crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida; se está grávida modere a atividade física, evite a exposição direta ao sol e ingira frequentemente líquidos; assegure que as crianças consomem frequentemente água ou sumos de fruta natural e que permanecem em ambiente fresco e arejado. As crianças com menos de 6 meses não devem estar sujeitas a exposição solar, direta ou indireta; contacte e acompanhe os idosos e outras pessoas que vivam isoladas. Assegure a sua correta hidratação e permanência em ambiente fresco e arejado; se é doente crónico ou está sujeito a terapêuticas e/ou dietas específicas, siga as recomendações do seu médico assistente ou do centro de contacto do SNS 24 - 808 24 24 24; no período de maior calor, corra as persianas ou portadas. Ao entardecer deixe que o ar circule pela casa, se possível deixe as janelas abertas de noite; se estiver num espaço público climatizado, proteja-se, use sempre máscara e mantenha a distância física; mantenha-se informado quanto às previsões meteorológicas e siga as recomendações da Direção-Geral da Saúde; em caso de perda de consciência ligue 112.

Médico e investigador do CINTESIS

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