Oliveiras e videiras na Índia

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Vinhas na Índia. O desafogo económico a partir do ano 1991 – quando a Índia passou do modelo económico do tipo da União Soviética, para o de livre iniciativa - permitiu tomar medidas que resultaram no seu grande crescimento.  

Houve difusão da Instrução, Telecomunicações modernas, expansão das TI-Tecnologias de informação, aumento da Importação e Exportação, melhores infra-estruturas de mobilidade e dos cuidados de saúde. 

A agricultura veio a crescer após a Independência e teve impactos fortes: de um país de fome na colonização, com as reformas como a Revolução Verde, aumento das zonas irrigadas e múltiplas inovações, a Índia passou a ser um exportador de alimentos, com 23 milhões de toneladas de cereais exportados no ano 2024.  

Empreendedores agrícolas foram à cultura da vinha, de castas escolhidas para boa adaptação aos climas da Índia. No estado de Maharastra surgiram muitas vinhas e variadas marcas de vinho. Haverá mais de 70 produtores de vinho e deles só na região de Nashik mais de 40. 

A Sahyadri Farms que compra produtos agrícolas aos seus associados para depois os vender, encontrou um bom nicho para exportação de uva de mesa, sem semente, para os países europeus, de janeiro a maio de cada ano. Na Europa há uva apenas em setembro e outubro. 

Difusão de vegetais. Venho confirmando a impressão de que a natureza é pródiga, correspondendo às necessidade locais, permitindo ampliar a produção de novos tipos de fruta e hortaliça.  

Quando os marinheiros portugueses se preparavam para descobrir o caminho marítimo para a Índia, faziam um cuidado estudo, com incursões graduais pelo futuro trajeto, para ir aprendendo quanto interessava à marinharia. E deram largas a curiosidade científica de ver como certos vegetais se davam nas variadas latitudes por onde passavam. Em cada porto de paragem teriam preparados plântulas que queriam ver como se adaptavam, se com produtividade aceitável. Levavam-nas aos variados portos onde paravam, nas suas feitorias no Oriente. Assim, do Extremo Oriente, à Índia, à Africa, à Europa e à América a difusão dos vegetais foi uma nota louvável, de longo alcance, da marinha portuguesa. 

Oliveiras na Índia? Em 2006/7 começou a tomar forma a ideia de cultivar oliveiras na Índia, nas regiões semidesérticas com temperaturas baixas à noite e altas durante longos períodos do ano. O perfil de temperaturas ajustava-se bem ao estado de Rajastão. O seu governo quis concretizar a ideia, buscando castas e técnicas propícias de Israel.  

As azeitonas e o azeite são muito apreciados pelas suas propriedades para a saúde humana. Daí a alta procura que já tem e que irá aumentar. Hoje os preços do azeite são muito elevados, por ser importado e com altas barreiras alfandegárias. A plantação está em vias de ser um sucesso.

O governo do estado quis incentivar a plantação, apoiando na aquisição de plântulas, na compra de fertilizantes e nos sistemas de rega. Foi criada um empresa que serviria para demonstração, com grupos privados e participação do estado, designada ROCL (Rajhastan Olive Cultivation, Ltd).

A ROCL iria cultivar 180 hectares de oliveiras. Agricultores privados iriam plantar muito mais, para chegar aos 500 hectares. Além disso, há empresas para preparar e vender azeitonas, chá das folhas e o mel das flores de oliveira. O produto central seria o azeite, dentro dos mais exigentes padrões de qualidade, com empresas estabelecidas para a extração, refinação e comercialização do azeite em larga escala.

Em 2013 começou a produção do azeite. Em Agosto de 2015, o Rajastão anunciou planos de chegar a 5200 hectares de olival no estado, criando-se a marca Raj Oil, em 2016. O objetivo do estado para 2025 era de chegar à produção de 1000 toneladas de azeitona, quando em 2020 já se tinham produzido 150 toneladas.

Mais inovações. Há muitas iniciativas para produção de novas variedades de fruta. A maçã, por exemplo, produzia-se nas zonas temperadas e frias no Norte da Índia; e houve tentativas bem-sucedidas de identificar certos tipos de macieiras que se dão muito bem em zonas de temperaturas altas, como no Rajastão, com produtividade mais que satisfatória. Mais de 14 estados já têm plântulas para produzir em grande quantidade.

A determinação, disponibilização de recursos, informação e incentivos aos
agricultores levaram a Índia a resolver o seu problema de alimentos. Hoje, já ocupa o primeiro lugar na produção de leite, mangas, bananas e papaias e está entre os 2 primeiros na cana-de-açúcar e nos cereais, em geral.

Professor da AESE-Business School, autor de O Despertar da Índia e de Inclusive Development

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