Objetivo: Índia
O ministro português dos Negócios Estrangeiros está hoje em Nova Deli onde vai participar numa conferência que aborda os 50 anos do restabelecimento de relações diplomáticas com a Índia. No sábado, Paulo Rangel estará em Goa, antiga colónia portuguesa cuja disputa e depois anexação pela via militar levara à rutura diplomática, mas que hoje serve de elemento de ligação entre os dois países. Entretanto, amanhã, ainda em Nova Deli, o ministro reunir-se-á com o seu homólogo , Subrahmanyam Jaishankar, que, por sua vez, visitou Lisboa em novembro de 2023, era João Gomes Cravinho o chefe da diplomacia, ocasião em que o ministro indiano enalteceu o papel especial de Portugal como ponte entre a União Europeia e o seu país numa entrevista ao DN.
Não será a primeira vez que Rangel e Subrahmanyam estarão juntos, pois ainda em novembro encontraram-se no Rio de Janeiro, na Cimeira do G20, grupo do qual a Índia é membro, como quinta economia mundial, enquanto Portugal participou como convidado por iniciativa do Brasil, que teve este ano a presidência. Nesse encontro no Rio de Janeiro, as delegações foram lideradas por Luís Montenegro e Narendra Modi e não deixa de ser relevante que na sua conta no X, o antigo Twitter, o primeiro-ministro indiano tenha classificado como “excelente” a reunião, sublinhando ainda que o país “preza os seus laços de longa data com Portugal”.
Laços históricos iniciados em 1498, com a chegada de Vasco da Gama por mar à Índia, um episódio que viria a ter grande impacto, pois abriu caminho à colonização europeia, nomeadamente britânica, como destaca Sanjay Subrahmanyam, autor de uma extraordinária biografia do navegador português e, curiosamente, irmão do ministro dos Negócios Estrangeiros indiano.
Depois da tão falada proximidade entre o antigo primeiro-ministro António Costa e Modi, que muitas vezes realçou as origens goesas do português, é importante sublinhar que Portugal, apesar da mudança de Governo, e a Índia continuam a apostar numa boa relação, que passa, além da promoção cultural, muito pela economia, com setores como o hidrogénio verde e as energias renováveis, como foi salientado no tal encontro no Rio de Janeiro. A imigração indiana para Portugal é outro dos assuntos-chave no relacionamento bilateral.
Interessado em diversificar parcerias, e pressionado também pelo Estados Unidos para não ficar demasiado submetido aos interesses económicos chineses, Portugal tem olhado com atenção para a Índia como sócio estratégico, consciente de que esta viu o PIB aumentar 7,6% em 2023 e tem um crescimento previsto de 6,5% em 2024, o melhor resultado entre as grandes economias.
Com Modi à frente do Governo desde 2014, a Índia prosseguiu uma linha de desenvolvimento económico que já era patente com o seu antecessor, Manmohan Singh, e que a fez subir de 10.ª potência para a atual 5.ª posição no espaço de uma década.
Rangel, enquanto eurodeputado, esteve atento à ascensão indiana, ao ponto de, numa entrevista ao DN sobre a presidência portuguesa da UE, no 1.º semestre de 2021, ter feito grande elogio ao interesse estratégico da Cimeira UE-Índia no Porto, só minimizada no impacto por a pandemia ter obrigado Modi a intervir por vídeo.
Aproveitar esta celebração dos 50 anos de relações diplomáticas, restabelecidas já depois do 25 de Abril, para promover ainda mais a cooperação entre Portugal e a Índia deve ser, pois, uma tarefa prioritária da diplomacia portuguesa. Rangel nesta visita assume uma linha que é de continuidade com a de Gomes Cravinho e Augusto Santos Silva, mas que necessita de ser continuamente trabalhada, pois não faltam outros países a cortejar uma Índia cada vez mais incontornável, não só pelo simbolismo de ser agora o país mais populoso, mas também pela sua maior capacidade de se relacionar com o Ocidente quando comparada com a China e, sobretudo, pelo dinamismo da economia.
A favor de Rangel, e de Portugal, contará o tradicional apoio à ambição indiana de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, reafirmado em setembro, em Nova Iorque, por Montenegro, num discurso em que também destacou o apoio ao Brasil em caso de reforma das Nações Unidas, tal como à dupla representação africana.
Diretor-adjunto do Diário de Notícias