Na edição desta segunda-feira, 18 de agosto, o DN fez manchete com os números que dava conta de que os portugueses batem recordes de férias no estrangeiro; entretanto, dados da UN Tourism – antiga Organização Mundial do Turismo – revelam que durante o primeiro trimestre de 2025, as viagens internacionais cresceram 5% em termos homólogos, o que significa que já superaram os números pré-pandemia.Em Portugal, todos sentimos o efeito do aumento do Turismo: na subida de preços praticados na hotelaria e restauração; na dificuldade em marcar noites ou mesas sem muita antecedência; nas filas que não param de aumentar para visitar pontos de interesse como o Mosteiro dos Jerónimos ou a Livraria Lello; nas praias aglomeradas e num aeroporto de Lisboa que, na grande maioria dos dias, está a rebentar pelas costuras. O fenómeno não é exclusivo do nosso país, e várias cidades já começaram a implementar medidas para tentar conter os efeitos nocivos que a sobrelotação das cidades e pontos de interesse está a ter. Em Veneza, foi proibida a entrada de grandes grupos de turistas na cidade em 2023 e, já este ano, o município implementou uma taxa turística de 5 euros a todos os visitantes. Uma outra é aplicada quando pernoitam dentro da cidade.Amesterdão também já reduziu as licenças para alojamento local e aumentou as taxas turísticas – mas ainda assim continua a ter números recorde de turistas a visitar a cidade – e em Barcelona, Paris ou na Grécia tem subido o tom dos protestos contra o excesso de turismo, que apesar de ser uma atividade económica muito relevante (em Portugal representa cerca de 15% do PIB nacional), tem tido efeitos sociais perniciosos como o aumento do custo da habitação e de acessos a outros serviços, para além de descaracterizar as cidades.“O turismo não existiria sem a inveja”, defendia há uns tempos o ator brasileiro Vitor DiCastro durante a participação no podcast 'É nóia minha'. “Eu preciso ver você nas Maldivas e falar: um dia serei eu. E o pior”, continuava, “é que a gente vive perrengues (contrariedades) nos lugares e a gente também não conta”, o que vai aumentando a popularidade e a mística dos destinos que já são muito pouco do que se vê nas fotografias. O ator falava do impacto que as redes sociais têm nesta vontade de viajar, de tirar a mesma fotografia que outros tiraram, de mostrar que se tem uma vida tão [alegadamente] interessante e invejável quanto outros.Não estará errado. Não será por acaso que se multiplicam os baloiços em frente a linhas do horizonte amplas, as letras gigantes a dizer “I Love [inserir nome da cidade]” e também os acidentes mortais de turistas a tentar tirar a fotografia que ninguém mais conseguiu. O turismo, salvação de algumas economias europeias nos últimos anos, pode bem ser a sua morte se não tivermos em conta um ditado muito antigo que os nossos avós nos ensinaram: “tudo o que é demais, é moléstia”.