O Sudeste Asiático vai ser a próxima “fábrica do mundo”
Já vimos que o investimento direto estrangeiro (IDE) na China caiu após o Q2 de 2022; esta queda no IDE insere-se num contexto de queda dos fluxos de investimento a nível mundial, sendo que, em 2023, de um total de € 1,21 biliões,€ 564 mil milhões (mM€ ) foram investidos em países em desenvolvimento asiáticos. Em relação a 2022, a China teve uma diminuição de 9%, na Índia a quebra foi de 37%.
Embora tenha demorado uns anos, muitas empresas estrangeiras chegaram à mesma conclusão que muitas empresas chinesas vinham chegando: é preferível investir em mercados emergentes estáveis com mais baixos custos, com um mercado doméstico a crescer, beneficiando do facto de os produtos oriundos desses países não estarem sujeitos a restrições na entrada nos apetecíveis mercados da UE e dos EUA.
Convém ainda evitar a dependência de um país que, por maior que seja o seu mercado e o seu potencial produtivo, pode estar sujeito a uma dissociação gradual com os atuais maiores blocos económicos do mundo - o europeu e o norte-americano.
Dentre esses mercados emergentes, os mais apetecíveis são os dos principais países do Sudeste Asiático, todos membros da Parceria Económica Regional Abrangente (RCEP), um acordo de comércio livre (FTA) que permite acesso privilegiado ao mercado chinês. Outro FTA - entre a ASEAN e a Índia - facilita o acesso ao mercado indiano.
Além disso, estes países cultivam a neutralidade política, como forma de beneficiar na navegação das águas turbulentas de um mundo polarizado pela rivalidade Ocidente-China, mas crescentemente multipolar.
No curto prazo, o Relatório de Investimento Mundial 2024, mostra que o número de investimentos greenfield anunciado para o Sudeste Asiático aumentou 42% (+56,4 mM€ em valor), centrado em serviços (em 2022) e no setor manufatureiro (em 2023). China, Hong Kong, EUA, Japão e Singapura continuam a ser os maiores investidores na região.
Na próxima década, o Sudeste Asiático (com 700 milhões de pessoas) é uma das regiões que terá um maior crescimento económico, catalisado pelo investimento estrangeiro. Num interessante relatório (Southeast Asia Outlook 2024–34, do Angsana Council, Bain & Company e DBS Bank), antevê-se que o investimento estrangeiro [a ser] canalizado até 2034 para os principais países do Sudeste Asiático seja massivo.
Se considerarmos apenas 4 setores estratégicos – a produção de veículos elétricos (na Tailândia e na Indonésia), a produção de baterias elétricas (na Indonésia, na Tailândia e na Malásia), a produção de semicondutores (na Malásia e em Singapura) e centros de dados (na Indonésia, na Tailândia e em Singapura) – existem já leads de investimentos na ordem da centena de mM€.
O Sudeste Asiático vai ser a próxima “fábrica do mundo”.