O seu, o meu, o nosso poder contra a pobreza e desigualdade

Uma em cada seis pessoas em Portugal encontra-se em risco de pobreza. E nos últimos dois anos, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mundial diminuiu sucessivamente, apagando os ganhos do quinquénio anterior.

É neste cenário, local e global, que lançamos um estudo que o/a interpela sobre os seus sentimentos em relação à pobreza. Já alguma vez já se questionou sobre por que existem pessoas pobres no mundo e o que significa a pobreza para elas? Ou se teria alguma influência ou poder para fazer algo no campo das desigualdades?

Pretendemos sublinhar a centralidade da reflexão crítica e o despertar para a ação. Chamámos-lhe "A urgência de ler o mundo".

Não é novidade, que os últimos tempos têm sido particularmente desafiantes e, após dois anos de pandemia, que agravaram as desigualdades entre e dentro dos países, agudizando a existência de "mundos" a vários ritmos, a falta de entendimento da sociedade sobre a forma como as interdependências globais estiveram na base da crise de saúde continua a ser notória. Observamos uma sociedade fraturada, dividida por polarizações que reforçaram incertezas, estereótipos, discursos de ódio e disparidades.

Os desafios globais nunca foram tão evidentes e estes obrigam a soluções igualmente globais -- que nos interpelam a todos. Que paradoxo é este de 52% do rendimento mundial ser detido pelos 10% da população mais rica? Perpetuam-se níveis de pobreza indignos, não obstante décadas de estudos, estatísticas, políticas, programas e projetos para a combater e mitigar.

As Organizações da Sociedade Civil, que procuram fazer face aos diversos desafios globais através da Educação para o Desenvolvimento e Cidadania Global (EDCG), olham com consternação para estes dados, e preocupam-se com a fraca consciência coletiva e mobilização dos cidadãos e cidadãs neste domínio.

Desde a década de 80 que a EDCG assume um papel educativo. Muitas organizações têm trabalhado afincadamente para sensibilizar a sociedade, mas o seu alcance pode ser muito maior, e essa mudança pode começar aqui, com este novo estudo, quando entendermos que "a pobreza e as desigualdades, enquanto problemas estruturais, são uma responsabilidade coletiva que exigem o comprometimento de todos, individual e, sobretudo, coletivamente: entidades governamentais a nível local, nacional e internacional; setor empresarial; órgãos de comunicação social; organizações da sociedade civil; sociedade em geral."

Temos de refletir e atuar criticamente rumo à transformação social, porque as desigualdades e a pobreza também são combatidas com conhecimento, com informação, com a forma como eu vivo/existo no mundo, e com a influência e o poder que cada cidadão e cidadã (global) tem.

É hora de reforçar a capacidade individual e coletiva de reflexão crítica sobre as implicações dos assuntos globais na vida de todos nós a fim de atenuar e erradicar desigualdades. É preciso arriscar com ética e uma solidariedade sem fronteiras. O que é verdadeiramente difícil em tempos como estes, mas urgente. Acompanha-nos nesta "urgência de ler o mundo"?

Diretora executiva da ADRA Portugal

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