O semáforo socialista
O anterior Governo de António Costa tentou lançar o sistema de rotulagem Nutri-Score, quase às escondidas e já no período de gestão, a 4 de abril, numa espécie de blitz encapotado, sabendo que poderia não receber o consenso parlamentar, depois de o PS ter perdido as legislativas de março. Espero, tal como muitos cidadãos portugueses e europeus, que o novo Executivo do primeiro-ministro, Luís Montenegro, recuse esta medida e se oponha firmemente a um sistema que prejudica o sector agroalimentar português e restringe a liberdade de escolha dos consumidores.
O Nutri-Score classifica com semáforos os alimentos embalados: semáforo verde para os alimentos supostamente "saudáveis", vermelho para os "não saudáveis" e laranja para os “intermédios”. Isto para orientar os consumidores para escolhas alegadamente mais saudáveis, de forma a combater a obesidade e o excesso de peso, que estão associados a doenças graves.
É verdade que a obesidade é considerada uma epidemia invisível, que afecta mais de mil milhões de pessoas – serão quatro mil milhões em 2035 – e pode levar a uma redução da esperança de vida. No entanto, o Nutri-Score não parece contribuir eficazmente para a redução da obesidade e poderá nunca ser bem-sucedido, mesmo que seja adotado universalmente, para bem dos seus promotores.
O sistema corre também o risco de ter efeitos secundários indesejáveis muito perigosos, para além de não reduzir a incidência da obesidade. A sua simplicidade pode induzir em erro tanto os consumidores como as empresas, especialmente em Portugal.
As empresas portuguesas, sobretudo as pequenas e médias, serão forçadas a modificar receitas tradicionais seculares para produzir alimentos ditos "saudáveis". Isto beneficiaria as multinacionais que não são portuguesas e que podem contar com linhas de produtos muito longas e, por conseguinte, podem dar-se ao luxo de vender tanto alimentos "saudáveis" como "nocivos".
O atual governo pode assegurar que as empresas portuguesas continuam a vender produtos tradicionais que se revelaram saudáveis ao longo dos séculos. Os cidadãos não se tornam obesos por causa dos produtos tradicionais da gastronomia portuguesa. São os princípios em que se baseia o Nutri-Score que estão errados.
Neste sentido, o algoritmo utilizado pelo Nutri-Score, que penaliza o açúcar, a gordura saturada e o sal, é frágil cientificamente e ignora a necessidade de equilíbrio nutricional, que é uma questão estritamente individual, não é igual para todos. A obesidade é uma doença complexa com múltiplas causas que vão para além da alimentação, incluindo a genética, o estilo de vida, a atividade física, a psicologia e os factores socioeconómicos.
A luta contra a obesidade deve incluir uma abordagem holística e personalizada, centrada na educação do consumidor e na disponibilização de ferramentas que lhe permitam fazer escolhas informadas. O sistema de semáforos limita o conhecimento e não estimula o pensamento crítico, apresentando uma "verdade" enganadora estabelecida através de um algoritmo que acaba por "trair" a tradição portuguesa e de cada um dos países europeus.
Acredito que o atual governo vai evitar cair numa armadilha de uma solução simplista e socialista que favorece determinados interesses comerciais em detrimento de outros. É fundamental defender o direito de escolha dos consumidores.