O que define a obesidade?

Qualquer perda de peso tem um impacto positivo na qualidade de vida e na melhoria das várias doenças associadas à obesidade. Menos 5% de peso já melhora a sua saúde. Por isso, não se esconda e não desista: procure os profissionais certos que o podem ajudar.
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Em Portugal, mais de 60% da população tem excesso de peso ou obesidade e as perspetivas para 2035 não são animadoras: dados internacionais indicam que cerca de 39% dos adultos portugueses poderão ser obesos até lá.

Mas, afinal, o que é isto da obesidade? Tradicionalmente, estabeleceu-se uma classificação de obesidade e da sua gravidade baseada numa relação entre o peso e a altura de cada pessoa, sendo que um Índice de Massa Corporal (IMC) até 25 é considerado normal e acima desse valor já é excesso de peso.

Esta visão é muito redutora e não tem em consideração fatores como a distribuição da gordura corporal ou a composição corporal. Olhando apenas para o IMC, teremos falsos resultados por exemplo em pessoas com excesso de massa muscular ou em pessoas com IMC normal, mas com um aumento significativo da gordura abdominal.

Por isso, devemos usar outros parâmetros, como o perímetro da cintura ou a relação entre o perímetro da cintura e a altura, que se relacionam de forma mais adequada com o risco cardiovascular e metabólico – o que, no limite, pode resultar em enfarte ou diabetes.

A obesidade é uma doença crónica, complexa, multifatorial, em que a genética tem assumidamente um papel muito importante e em que a gordura corporal anormal ou excessiva compromete a saúde, aumentando o risco de complicações a longo prazo e reduzindo a esperança de vida. Não se trata de uma questão estética, mas de saúde individual e de saúde pública.

A obesidade está associada com patologias que podemos agregar em três grupos: as metabólicas, as mecânicas e as mentais. Nas doenças metabólicas destacam-se a pré-diabetes e diabetes tipo 2, a hipertensão arterial, a dislipidemia, as doenças cardiovasculares, a síndrome de apneia obstrutiva do sono e o tromboembolismo. É ainda um fator de risco importante para a infertilidade e para vários cancros. Do ponto de vista osteoarticular, tem uma morbilidade significativa. E não podemos esquecer a falta de autoestima, nem o aumento de depressão e de ansiedade associada à obesidade.

A obesidade é, sem dúvida, mais complexa do que apenas o resultado da falta de força de vontade ou de disciplina. São necessárias várias estratégias para a combater de forma consistente ao longo da vida.

É necessário ter motivação para as mudanças comportamentais e de estilo de vida. Em complemento, atualmente dispomos de um conjunto de terapêuticas farmacológicas, que têm contribuído para o sucesso no tratamento da obesidade. Em determinadas situações, a cirurgia pode estar indicada.

Por tudo isto, e em qualquer caso, são necessários profissionais de saúde integrados numa equipa multidisciplinar que vão orientar todo o processo, recorrendo a várias estratégias, que vão desde mudanças ao estilo de vida ao recurso a terapêutica médica e cirúrgica, consoante os casos.

Tal como tem havido um grande desenvolvimento no tratamento farmacológico da obesidade, o tratamento cirúrgico tem tido uma evolução extraordinária nos últimos anos. Na realidade, também nesta área podemos falar em cirurgia de precisão, adaptada a cada doente, com recurso a cirurgia robótica.

Centros de tratamento de obesidade reconhecidos internacionalmente como centros de referência são uma garantia de qualidade e temo-los em Portugal: exemplo disso é a Unidade da Obesidade do Hospital CUF Descobertas que, pela diferenciação e qualidade dos cuidados de saúde prestados pela equipa clínica multidisciplinar, recebeu o estatuto de Centro de Referência Internacional, por parte da European Association for the Study of Obesity.

Qualquer perda de peso tem um impacto positivo na qualidade de vida e na melhoria das várias doenças associadas à obesidade. Menos 5% de peso já induz uma melhoria da hipertensão arterial, dislipidemia ou fígado gordo. Com perdas de 10% já vemos mesmo uma reversão de algumas destas doenças. Por isso, não se esconda e não desista: procure os profissionais certos que o podem ajudar.

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