O poder da amizade no local de trabalho

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As relações sociais são uma parte importante da condição humana. Sendo que as pessoas passam grande parte das suas vidas no trabalho, é aí que, naturalmente, têm mais probabilidades de desenvolver amizades. No entanto, e apesar de muitos executivos afirmarem que “as pessoas são o nosso maior ativo”, eles esperam que os seus colaboradores deixem as suas vidas pessoais à porta quando vêm trabalhar.

Pois bem, ignorar as amizades é ignorar a natureza humana, e na batalha entre a política da organização e a natureza humana, a última ganha sempre. As pessoas satisfazem as suas necessidades sociais, independentemente do que lhes é imposto. As organizações fazem muito melhor se aproveitarem o poder deste tipo de capital social do que se lutarem contra ele.

Ter amigos no trabalho está fortemente ligado a resultados empresariais, incluindo melhorias na rentabilidade e retenção de colaboradores. A razão é simples: os amigos são mais empenhados, comunicam melhor e encorajam-se mutuamente. As relações interpessoais na organização têm um efeito positivo, considerável e significativo na satisfação profissional do colaborador. A evidência científica demonstra que as relações sociais são a característica do local de trabalho, de um total de doze, que mais influencia a satisfação profissional.

É importante que as organizações desenvolvam culturas que priorizem e incentivem amizades no trabalho. A criação, por exemplo, de um sistema de amigos para a integração de um novo colaborador na organização pode acelerar a sua produtividade. Os colegas não só dão dicas aos recém-contratados sobre onde estão as coisas e quais são as regras não formais, como também os ajudam a estabelecer contactos com outras pessoas na organização. E algumas dessas ligações iniciais conduzirão a relações duradouras.

Por exemplo, a Microsoft descobriu que quando os seus novos contratados se reuniam com os seus amigos mais de oito vezes nos primeiros 90 dias de trabalho, 97% referiram que os seus amigos os ajudavam a tornar-se produtivos mais rapidamente. Mas quando os recém-contratados se encontravam com o seu colega apenas uma vez durante os primeiros 90 dias, esse número era de apenas 56%.

Construir amizades requer falar, ver e estar com as pessoas. Desde a pandemia, que o trabalho remoto aumentou e as horas que os colaboradores passam a envolver-se socialmente com amigos de trabalho reduziram. É importante aumentar este tempo de contacto e promover uma cultura de amizade, sendo essencial que as lideranças deem o exemplo. Para tal devem comunicar mais pessoalmente e menos por correio eletrónico, incentivar a formação cruzada ou fazer com que os colaboradores alternem as suas funções (de modo a poderem colaborar com pessoas de outras áreas da organização), planear eventos sociais e criar espaços de convívio social.

Mas não de forma exagerada. As “happy hours de escritório” não devem ser eventos (tacitamente) obrigatórios com a intenção subliminar de fazer com que as pessoas fiquem mais tempo no local de trabalho (em detrimento da promoção de uma cultura de diversão). Os líderes podem impor políticas, formação ou folhas de ponto, mas não podem obrigar as pessoas a serem amigas. Não forçar a barra é importante para não se chegar ao ponto em que os colaboradores começam a odiar a organização só de pensar nas suas festas.

Para os colaboradores que não têm amigos com quem possam contar, o trabalho pode ser miserável - e essa miséria pode tornar as suas vidas piores do que não ter trabalho nenhum. Mas as organizações que dão prioridade ao bem-estar social dos seus colaboradores e proporcionam às pessoas oportunidades de fazer amigos no trabalho, podem ajudar a resolver a epidemia de solidão que aflige grande parte da humanidade.


Diretor executivo de educação online da NOVA SBE Executive Education

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