A reforma das Unidades Locais de Saúde (ULS) foi anunciada, ainda antes da sua criação, como a mais importante desde a fundação do Serviço Nacional de Saúde em 1979..Reconheço a importância fundamental da integração, de uma maior e melhor ligação entre os vários níveis de cuidados, a Saúde Pública, medicina geral e familiar, a medicina hospitalar, os cuidados continuados e o setor social. Apesar de tudo, nunca fui grande entusiasta da opção das ULS como modelo privilegiado, entre vários outros, para a integração dos níveis de cuidado..Conheço bem as oito ULS criadas até 2023. Infelizmente, a maioria era precisamente onde se sentiam as maiores dificuldades do SNS..Foi por isso, para mim, uma surpresa estar-se a disseminar pelo país uma estrutura que não tinha dado nenhuma prova de ser uma mais-valia para as tão aguardadas alterações na organização do SNS..É natural que qualquer reforma encontre dificuldades na sua implementação. Acontece sempre que há transformações do statu quo em vigor. No entanto, têm surgido, semanalmente, preocupações, de norte a sul do país, que retratam dificuldades assistenciais e formativas acrescidas e, inclusivamente, de casos de regressão na ligação e diálogo entre os cuidados de saúde primários, hospitalares e seus conselhos de administração..Reformar é desafiar o statu quo, mas também é enfrentar obstáculos que exigem soluções imediatas e eficientes. As dificuldades que emergem, de todos os cantos do país, destacam a necessidade crítica de uma intervenção urgente que possa salvar este modelo de integração das ULS..A reorganização funcional dos hospitais, que assenta num modelo arcaico incapaz de se reformular há mais de meio século, a preservação e desenvolvimento da importante reforma dos cuidados de saúde primários com as suas Unidades de Saúde Familiares e Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, a modernização e valorização da Saúde Pública, assim como a capacidade de o SNS voltar a atrair mais médicos numa perspetiva de uma Nova Carreira Médica adaptada as exigências atuais serão, certamente, prioridades do novo diretor-executivo do SNS, dr. António Gandra d’Almeida. Sem nos esquecermos do mais relevante: o doente e todos os aspetos relacionados com a humanização dos cuidados, tão maltratada nestes últimos anos..O que realmente me surpreende nesta reforma é a ausência de uma comissão de acompanhamento, que é absolutamente imprescindível. Nenhuma reforma terá êxito se não for acompanhada e monitorizada por um grupo de apoio que possa, a cada momento, ajudar a corrigir e implementar as soluções mais adequadas. Falta a esta reforma uma Comissão de Acompanhamento das ULS que o Ministério da Saúde e a Direção-Executiva do SNS têm de constituir urgentemente..A título de exemplo, a reforma dos cuidados de saúde primários, a mais bem-sucedida reforma do SNS até hoje, tinha uma Equipa Regional de Apoio (ERA) - que, aliás, deve ser revitalizada - com a missão de ajudar na criação das USF e acompanhar regularmente a sua evolução..As ULS foram deixadas sem uma orientação clara, sem uma estrutura de apoio e sem avaliação do caminho percorrido desde há cinco meses..Temos ainda a oportunidade de corrigir os erros intrínsecos desta reforma. O que não devemos fazer é ignorá-los..A reforma das ULS é para manter, mas tem de ser melhorada, aprimorada e monitorizada, papel técnico a ser desenvolvido por uma comissão de acompanhamento especializada.