O novo Leão
Vou fugir à tentação de profetizar qual vai ser a natureza do caminho concreto de Leão XIV. Porém, a escolha do nome indiciará muito. Como o próprio afirmou aos cardeais que o escolheram, inspirou-se em Leão XIII e na sua encíclica Rerum novarum, com o foco na acção social da Igreja, sequência da Revolução Industrial. Hoje, há uma nova revolução mundial: a da Inteligência Artificial, que implicará uma transformação, principalmente a nível da justiça, do trabalho, da dignidade humana. Independente de continuar o caminho do Papa Francisco nas linhas da conversão missionária, da sinodalidade e de uma atitude de amor para com os excluídos, esta escolha nominal sublinha outras características que os tempos em que vivemos solicitam de alguém que é sucessor de Pedro. E vimo-las em todos os papas denominados “Leão”: autoridade, força, coragem, liderança espiritual e doutrinal. Também ficaram conhecidos pelo espírito reformista. Começando pelo primeiro, Leão o Grande, que confrontou Átila, o Huno. Leão III, que coroou Carlos Magno e fortaleceu as ligações entre o poder papal e o império Carolíngio, considerado como a primeira fase do Sacro Império Romano-Germânico, uma das estruturas políticas mais importantes de sempre na Europa. Leão IV, que reconstruiu a cidade de Roma, a sua defesa e as suas igrejas, bem como Leão VII e a sua reforma monástica. O destaque vai para Leão X, filho de Lourenço, o Magnífico, da poderosa família Médici, o grande responsável pela encomenda do tecto da Capela Sistina, patrono de Miguel Ângelo e Rafael. Por detrás do nome, há um espírito reformista; mas também há uma aura de tradição e segurança na manutenção da doutrina da Igreja Católica.
Seja qual for a disposição do Espírito Santo na inspiração da acção de Leão XIV, a expectativa é a de ser o líder para o tempo que dele necessita.
Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS).
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico