O Japão que não há em nós

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Estou a sair para o Japão, um país que trata Portugal com uma deferência que a maioria dos nossos concidadãos não tem qualquer noção de que existe.

No Japão, só há os Japoneses e os estrangeiros.

Por todo o seu caminho de desenvolvimento cultural e como sociedade, o Japão viveu extraordinariamente isolado e criou este conceito de nós e os outros.

Contudo, dentro dos estrangeiros há os estrangeiros - que são todos os povos do Mundo - e há os estrangeiros portugueses.

Não nos consideram melhores ou piores, nem nos darão a possibilidade de um dia sermos como eles, mas dão-nos o enorme respeito de nos identificarem como um povo especial.

Foram os portugueses os primeiros ocidentais a tocar o Japão e foram os portugueses, com as suas inovações, entre elas a espingarda, mas também com a capacidade de os ensinar a saber produzi-las, que trouxeram a possibilidade de acabar com a guerra civil que assolou aquele país por mais de um século.

Foram os portugueses os primeiros a estabelecer o navio do trato que promoveu o transporte de produtos que os japoneses jamais tinham visto, e fomos os responsáveis por um enorme desenvolvimento que o Japão viveu no período em que lá estivemos.

Contudo, depois da extraordinária aventura que nos levou a dar a conhecer o Japão ao Mundo ocidental e de dar a conhecer esse mundo aos japoneses, depois de os termos ensinado muito do que conhecíamos e de ter aprendido a civilidade avançadíssima que vivia o Japão do século XVI, esquecemos completamente aquele país, e só voltámos a encontrarmo-nos num episódio de má memória, durante a Segunda Guerra Mundial em Macau e em Timor.

Depois voltámos a olvidar este povo e este país que continua a ser um símbolo da civilidade, da educação e da honra.

Três coisas de que também nós nos esquecemos.

Neste princípio de viagem, ainda com os jornais portugueses na mão, vejo que o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, depois de escandalosamente ter sido apanhado a mentir recorrentemente sobre assuntos da maior importância da sua responsabilidade, poderá ainda ser o candidato a secretário-geral do Partido Socialista.

Prometo, caro leitor, que não vou contar isto a nenhum japonês tal é a minha vergonha!
Ainda assim e com este desagradável segredo bem guardado no meu consciente, acredito que Portugal pode e deve olhar mais para este país em que temos algum ponto de reconhecimento acima de todos os restantes países nossos concorrentes.

É a terceira maior economia do mundo e a oportunidade de relacionar os nossos produtos com a qualidade da nossa imagem, mas é preciso também ser consistente e credível para conquistar este mercado - que é especial é difícil, mas que é muito forte, consistente e muito correto.

Um país onde a palavra tem um valor inquestionável e que, também nisso, se parecia connosco.
Um mercado em que não se pode perder a face ou a honra, pois isso destrói a credibilidade em que assenta toda a sociedade.

E, é claro, também aqui há quem seja menos correto, mas a esses a sociedade não lhes dá o reconhecimento, nem os deixa voltar a ascender aos lugares que devem ser de exemplo.

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