O futuro está no espaço

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Esta semana Lisboa acolhe dois importantes encontros dedicados ao espaço. Nos dias 14 e 15 de maio, realiza-se a Conferência de Alto Nível sobre a Gestão e a Sustentabilidade das Atividades Espaciais, iniciativa conjunta de Portugal com as Nações Unidas. No dia seguinte, 16 de maio, decorrerá a primeira reunião da Rede Ibero-americana de Agências Espaciais, promovida pela OEI, que tem como principal objetivo facilitar a colaboração entre agências, universidades, centros de investigação e também a indústria, numa área que exige, cada vez mais, trabalho conjunto. Em ambos os eventos, destaque-se a liderança da Agência Espacial Portuguesa.

O espaço tem uma importância crescente no funcionamento da nossa vida na terra, mas a maioria de nós tem pouca noção do que se passa nesse lugar que admiramos e efabulamos desde tempos imemoriais. Recordo o assombro da chegada à lua, em 1969, parte visível de muitos desenvolvimentos de que beneficiamos e de perigos em que incorremos. Sem os satélites que povoam o espaço não seriam possíveis as comunicações em qualquer ponto do planeta, a navegação por satélite ou as informações que resultam da observação da Terra, desde logo na luta contra as alterações climáticas, mas também na gestão de catástrofes como derrames nos mares, incêndios ou terramotos.

As tecnologias do espaço são tão variadas que podem ir da mais sofisticada utilização à agricultura, por exemplo apoiando a identificação das melhores condições de cultivo e colheita. Um exemplo em Portugal é o Smart Farm Colab, sediado em Torres Vedras, que desenvolve e adapta tecnologias digitais para a agricultura em função das necessidades dos produtores. Um lado menos brilhante é a utilização dos satélites para fazer escalar as guerras.

Tim Marshall, jornalista britânico considerado uma autoridade em geopolítica, publicou no ano passado O Futuro da Geografia (2023), em que analisa como o domínio do espaço vai transformar o nosso mundo. Em 2015, havia publicado Prisioneiros da geografia em que mostra como as escolhas de cada nação são limitadas por mares, rios e montanhas, como bem sabemos enquanto portugueses. Em 2021, lançou O poder da Geografia em que analisa a emergência de países e novas rivalidades, que determinam os desafios do futuro neste século XXI. Pode-se dizer que O Futuro da Geografia decorre dos seus anteriores ensaios, expondo as novas realidades geopolíticas e suas consequências: “O espaço moldou a vida humana desde o início. Os céus davam sentido às nossas primeiras narrativas da Criação, influenciaram as nossas culturas e inspiraram avanços científicos. Mas a nossa visão do espaço está a mudar. Mais do que nunca, ele está a tornar-se uma extensão da geografia da Terra: os humanos estão a levar os nossos estados-nação, as nossas empresas, a nossa história, política e conflitos para o espaço, muito acima de nós. E isso pode revolucionar a vida à superfície da Terra.”

A Declaração de Lisboa sobre Gestão e Sustentabilidade do Espaço Exterior aprovada hoje no Fórum das Nações Unidas é um importante passo para que este debate se faça a nível global, alertando para a necessidade de um enquadramento legal que promova a transparência e a partilha (da gestão do tráfego espacial e dos recursos à remoção do lixo).

É, por isso, da maior relevância o lançamento da Rede ibero-americana de agências espaciais que amanhã decorrerá, mandato atribuído à OEI por ocasião do Fórum de Alto Nível dos Ministros Ibero-americanos da Ciência e Tecnologia, realizado na Argentina em 2022. Trata-se de um tema que exige uma articulação multilateral que desde logo parta da identificação das políticas públicas existentes, infraestruturas ou recursos humanos disponíveis, diagnóstico que será apresentado em Lisboa. Importa não deixar ninguém para trás num domínio que decidirá o futuro coletivo. É por isso muito importante fazer a cooperação acontecer.

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