O fator "P"

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Em 2019, veio um português e ganhou uma Libertadores. Em 2020 e 2021, veio outro português e ganhou duas Libertadores. Em 2024, veio outro português e ganhou uma Libertadores.

O fator “P” está cada vez mais gravado no ADN do futebol sul-americano!

A conquista, ontem, da “Glória Eterna” pelo Club de Regatas Botafogo constitui, além de um feito histórico para o clube carioca, a concretização da quarta, em seis anos, pelas mãos – e cabeça, muita cabeça – de treinadores portugueses.

Artur Jorge, até este ano um quase ilustre desconhecido no Brasil, fez a estrela solitária que simboliza o “Fogão” brilhar intensamente, não na madrugada onde Vénus aparece como a primeira estrela da manhã, mas num final de tarde que teve todos os ingredientes que um bom jogo de futebol deve ter: golos, suspense, superação (o Botafogo jogou mais de 90 minutos com dez jogadores).

Quando há cerca de sete meses desembarcou no Rio de Janeiro, Artur Jorge foi olhado com alguma desconfiança pelos adeptos de um clube que passou por situações inusitadas nos anos mais recentes. Uma despromoção em 2020, um campeonato quase ganho e perdido em 2023, e vontade de virar a página o mais rapidamente possível.

Ontem, tudo mudou. Milhões de adeptos entoaram, e irão entoar nos próximos dias, o nome do treinador que lhes deu um título inédito.

Artur Jorge devolveu o prestígio a um clube centenário. Ao fazê-lo, aumentou também o prestígio dos treinadores portugueses no Brasil, e em consequência reforçou ainda mais os laços que unem os nossos países.

Gosto muito de futebol, e o futebol tem-me ajudado a destravar muitas conversas por este país fora. Tem sido gratificante acompanhar a trajetória dos vários treinadores portugueses que por aqui passam, e como esses treinadores põem as equipas que comandam a jogar bom futebol.

Mas nem nos meus sonhos mais otimistas eu pensava que iria assistir a três – três! – conquistas da Taça dos Libertadores com sotaque português de Portugal, durante o meu mandato como Embaixador no Brasil.

Parabéns, Artur Jorge! “Pois, pois”, parece que os treinadores portugueses são mesmo bons.


PS: perdemos há dias o Romário, que além de ter sido um funcionário exemplar, que dedicou quase toda a sua vida a servir Portugal, era um fervoroso adepto do Botafogo. Tivemos muitas conversas sobre o seu clube do coração, e não escondia desilusão com a perda do título o ano passado, e a descrença de que o “Glorioso” lhe desse este ano uma alegria. Não viveu o suficiente para ver esta conquista. A estrela solitária tem companhia lá no céu.

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