O Estado da União

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Tal como se passa em Portugal com o Estado da Nação, o debate do Estado da União é sempre um momento nobre da vida parlamentar. A Comissão Europeia e os deputados analisam o último ano e discutem as prioridades para o futuro.

Nesse debate, ontem, a Presidente von der Leyen fez um esforço meritório para ser o mais abrangente possível. Mas houve uma falha desconcertante: a dimensão social da UE ficou em segundo, ou mesmo em terceiro plano.

No contexto atual, onde a pandemia ainda é uma realidade que, temo, ainda está para durar, a dimensão social nunca pode deixar de ser considerada uma prioridade.

Basta pensar que 18 milhões de crianças, em 2021, na UE, ainda vivem em situação de pobreza.
É urgente uma lei europeia anti-pobreza, com metas vinculativas para redução da pobreza, de pobreza energética, das desigualdades. Se não avançámos o suficiente de outra forma, então criemos uma lei vinculativa que obrigue os Estados-Membros a medidas concretas.

Para nós - para os Socialistas Europeus - o apoio à Comissão não significa menos exigência ou escrutínio.

Relembro, aos "negacionistas" que ainda duvidam que a UE pode fazer a diferença, que os últimos 18 meses demonstraram a nossa capacidade de cooperação, solidária e eficaz. O Fundo de Recuperação e de Resiliência e a compra conjunta das vacinas são dois bons exemplos do que é capaz a UE quando seguimos a visão ambiciosa dos fundadores do projeto europeu.

É certo que estes meses de emergência sanitária "congelaram" o avanço da capacidade orçamental da Zona Euro, uma das medidas que justificou o apoio político dos Socialistas à Comissão Europeia.
Mas também é certo que temos que cumprir promessas feitas aos cidadãos e, por isso, não há lugar para recuos, por exemplo, no mecanismo Europeu para seguro de desemprego.

É certo que nestes meses de emergência fomos menos enfáticos a lembrar que estamos em plena emergência ambiental.

Mas também é certo que durante todo o verão nos "entraram pela casa dentro" imagens de fenómenos climatéricos extremos - cheias na Alemanha e em França, temperaturas recorde no Canadá, incêndios gigantes na Grécia e em Espanha, nevões históricos no Texas, Estados Unidos.

Não deixaremos que regras orçamentais ultrapassadas e (ainda) demasiado ortodoxas travem uma transição ambiciosa, mas justa, que acompanhe os esforços de recuperação económica.

Mas se estas dimensões estiveram ausentes ou foram vagamente afloradas no debate do Estado da União, não quero terminar sem anotar que a Presidente von der Leyen, de forma clara, defendeu a necessidade de afirmação das várias dimensões da política externa da UE, reconhecendo que temos que ultrapassar egoísmos, cooperar e aumentar a capacidade de intervenção e influência.

Concordo que é difícil conjugar multilateralismo, de que não podemos nem queremos abdicar, com uma União a "falar" a uma só voz.

Mas a política é também a arte de construir compromissos.

Em síntese, do debate do Estado da União fica o ânimo de quem viu a UE a combater de forma correta uma terrível pandemia, o registo de importantes omissões e a consciência da muita exigência que nos reserva o próximo ano político.

Sobre o Presidente Sampaio já quase tudo foi dito e escrito. Quero apenas registar que a unanimidade das opiniões de pessoas dos mais diversos quadrantes (não só da política) reforçam a ideia de que perdemos um dos melhores. Até SEMPRE.

Eurodeputado

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