O efeito Northvolt no financiamento de gigafábricas europeias
Após a derrocada da Northvolt, o financiamento de novas gigafábricas de baterias elétricas na Europa ficou mais difícil. A incrível falta de aptidão técnica da Northvolt está a fazer os bancos e os analistas financeiros considerarem este fator como crucial na sua análise de risco. A verdade é que nenhuma empresa europeia tem demonstrada aptidão técnica para operar tais gigafábricas. Mesmo nos casos em que o financiamento (por bancos ou entidades financeiras) era suposto estar garantido – c. 44,5 mil milhões de euros (mM) em c. 40 projetos, gerando uma capacidade de produção anual de 500GWh para células de baterias Li-ion em 2025 e 1.144GWh em 2030 – a respetiva análise de risco vai certamente ser revista para evitar a repetição do que sucedeu no caso da Northvolt.
Por outro lado, o fornecimento dos metais críticos (provenientes da grafite, do lítio, do níquel, do cobre, do manganês, do cobalto, das terras raras, do alumínio) de que as baterias elétricas são feitas, provêm quase todos da China, e em percentagens significativas.
Sendo as políticas de decoupling e de derisking do conhecimento dos bancos e dos analistas financeiros, e tendo a China retaliado já com proibições de exportação de alguns metais críticos (germânio e gálio, essenciais para a produção de semicondutores avançados) em situações decorrentes de políticas de decoupling, não é provável que os financiadores desconsiderem este risco.
Curiosamente, nos mercados de futuros praticamente não existem quantidades disponíveis destes metais críticos para venda para além de 3 meses, por parte dos seus produtores (empresas estatais chinesas, na maioria dos casos).
Por estas razões, os beneficiários da política europeia de rápida criação de gigafábricas serão empresas não-europeias com provas dadas no que tange à aptidão técnica e com um histórico de fornecimento seguro de metais críticos; mais exatamente, empresas chinesas (CATL, BYD, CALB, Envision, Farasis, Sunwoda, SVOLT), coreanas (LG Energy, SK, Samsung), japonesas (Panasonic) e a Tesla.
Nos demais casos, os financiadores exigirão acordos e parcerias com empresas chinesas coreanas ou japoneses com adequada aptidão técnica e garantias de fornecimento seguro de metais críticos.
Tudo isto vai atrasar o processo de financiamento dos projetos de gigafábricas de empresas europeias, cujos calendários eram já considerados assaz irrealistas.
O Japão, a Coreia do Sul e a China aprenderam com o Ocidente, acolhendo as suas melhores empresas e beneficiando do seu know-how e tecnologia. Agora o Ocidente precisa de aprender com as empresas asiáticas dispondo de know-how e tecnologia mais avançados no setor do armazenamento elétrico. Provavelmente reciprocando a exigência [similar à da China] de transferência de tecnologia para terem acesso ao mercado europeu.
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