O Dia da Unidade Alemã dá-nos confiança

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O Dia da Unidade Alemã é para nós, alemães, um motivo de alegria e de orgulho. A memória do que aconteceu naquela época e do que, consequentemente, tornou possível, dá-nos confiança para enfrentar os desafios atuais.

Recordamos e comemoramos o fim da divisão do nosso país, que os cidadãos da Alemanha Oriental geraram com o seu apelo à liberdade e unidade.

Assim sendo, nada mais adequado do que, este ano, ser Erfurt, a capital do Land da Turíngia, um dos novos Länder da Alemanha, a organizar e acolher a celebração oficial do Dia da Unidade Alemã, que decorre todos os anos num Land diferente, sob o lema "zusammen wachsen" (crescer juntos). #zusammenwachsen22

Recordamos com gratidão os nossos amigos e parceiros europeus e transatlânticos, sem os quais não teria sido possível a Unificação do nosso país. Recordamos em especial os cidadãos corajosos da Europa Oriental que, de antemão, abriram o caminho em direção à liberdade: a Polónia com o movimento Solidarnosc, a Hungria e a antiga Checoslováquia, abrindo as primeiras brechas na Cortina de Ferro.

A queda do Muro de Berlim está indissociavelmente ligada ao fim da Guerra Fria na Europa. Do mesmo modo é para nós, alemães, igualmente indissociável a interligação entre a unidade alemã, a integração europeia e a parceria transatlântica. Como país situado no coração da Europa, sabemos que alcançamos a nossa liberdade, prosperidade e paz, em conjunto, numa Europa unida.

Por conseguinte, os anos que se seguiram à Unificação podem talvez, até à data, ser considerados dos mais significativos em termos de progressos no âmbito do projeto de integração europeia - internamente com o Tratado de Maastricht, a introdução do euro e o Tratado de Lisboa, e externamente, com o processo de alargamento da União Europeia e a adesão de países da Europa Central e Oriental e de países Bálticos.

Naquela época, achámos que a marcha triunfal da paz, da democracia e da liberdade fosse imparável.

Hoje, porém, encontramo-nos novamente num ponto de viragem, pois Vladimir Putin trouxe a guerra de volta ao coração da Europa com a invasão russa da Ucrânia. O chanceler alemão, Olaf Scholz, deixou claro em Praga, no seu discurso sobre a Europa, quais as prioridades para a Alemanha, resultantes dessa invasão:

Vladimir Putin não deve vencer esta guerra e a Ucrânia continuará a existir como um Estado soberano. Trabalharemos nesse sentido, em estreita coordenação com os nossos parceiros, utilizando meios políticos, económicos e militares. Entre outras iniciativas, o governo alemão organizou uma conferência sobre a reconstrução da Ucrânia, que terá lugar em Berlim, nos finais de outubro. Estou impressionada com a grande solidariedade que Portugal demonstrou em relação à Ucrânia - seja no acolhimento e integração dos refugiados, seja no apoio às sanções da UE contra a Rússia, apesar das suas graves consequências que afetam a vida quotidiana dos cidadãos portugueses.

As agressões de Putin conseguiram exatamente o oposto do que ele pretendia alcançar. Em vez de dividir a Europa, estamos mais unidos. A adesão da Finlândia e da Suécia à NATO contribui para o reforço da aliança e tanto o Bundestag como a Assembleia da República portuguesa aprovaram esta adesão por grande maioria. Ao conceder o estatuto de candidato à UE, tanto à Ucrânia como ao seu Estado vizinho, a República da Moldávia, reafirmamos claramente que o futuro destes dois países está na UE. Nunca iremos aceitar que as fronteiras da Europa sejam alteradas por via da força.

Ao mesmo tempo, temos de tornar a União Europeia apta para o futuro. A vontade de integrar mais países que pretendam aderir à UE, tal como a Ucrânia, a República da Moldávia, os Balcãs deve ser acompanhada por reformas internas, a fim de evitar qualquer bloqueio e aumentar a nossa capacidade de ação.

Temos de reforçar a soberania europeia e, ao mesmo tempo, minimizar a dependência energética, não apenas em relação à Rússia, mas também em relação à utilização dos combustíveis de origem fóssil no geral. A transição energética será uma tarefa para gerações, que pretendemos realizar com a maior celeridade possível e completar dentro do mais curto espaço de tempo. Como nação industrial, a Alemanha enfrenta desafios particulares. No entanto, definimos e acordámos com as iniciativas "fit for 55" e "RePowerEU", um quadro e instrumentos claros a nível da UE, e adotámos outras medidas, na reunião extraordinária do Conselho de Energia da UE na semana passada.

A Associação Alemã de Indústrias da Água e da Energia (BDEW) acaba de reafirmar que, apesar de todas as adversidades que estamos a viver atualmente, as empresas na Alemanha estão determinadas a continuar a trilhar o seu caminho e abandonar a era dos combustíveis fósseis. Para tal apostamos na colaboração com parceiros como Portugal na área das energias renováveis.

No entanto, a soberania europeia não significa autarcia. Pelo contrário, deve ir de mãos dadas com o desenvolvimento e intensificação das nossas parcerias globais, baseadas em valores comuns - primeiro e acima de tudo na comunidade transatlântica, mas também para além dela. Deve ir de mãos dadas pela defesa dos nossos valores comuns, de uma ordem mundial justa e baseada em regras. A comemoração do Dia da Unidade Alemã, a revolução pacífica na Europa, significa também que devemos demonstrar a nossa solidariedade para com todas as pessoas que lutam pelos seus direitos. Recordo aqui, em particular, as mulheres corajosas no Irão e no Afeganistão, que arriscam as suas vidas pela sua liberdade.

Sinto-me encorajada pela solidariedade e pela vontade de um futuro europeu comum, um sentimento muito fortemente presente também aqui em Portugal. A memória do milagre da revolução pacífica na Europa Central e Oriental, que celebramos no Dia da Unidade Alemã, enche-me de confiança para o nosso futuro comum numa Europa livre e pacífica.

Embaixadora da Alemanha

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