O desmoronamento da economia russa
Após a invasão (a 24 de fevereiro) da Ucrânia pela Rússia, a UE e o "mundo ocidental" impuseram sanções severas, nomeadamente financeiras. Foram proibidas transações com sete dos maiores bancos da Rússia; foi proibida a negociação de obrigações soberanas russas nas praças financeiras ocidentais; limitou-se a capacidade de emprestar a algumas grandes empresas russas; bloqueou-se os principais bancos russos do sistema SWIFT; e foram congeladas as reservas cambiais do banco central russo. Com este primeiro conjunto de sanções, a Rússia ficou bloqueada no acesso ao mundo financeiro internacional. Foi ainda proibida a exportação de cerca de metade das principais componentes tecnológicas que a Rússia compra a fornecedores ocidentais. Para além dos principais políticos da Rússia, outras sanções almejaram as elites russas e as suas empresas. Foram congelados os ativos dos principais oligarcas russos, que até recentemente escapavam às sanções, com os seus mega-iates a serem apreendidos. Dada a natureza extraterritorial de muitas destas sanções, nenhuma entidade ocidental se atreverá a interagir com as instituições financeiras russas no devir próximo. Os riscos reputacionais (e a pressão da opinião pública ocidental) levaram centenas de empresas ocidentais respeitáveis a declarar que vão deixar de fazer negócios na ou com a Rússia.
No dia 28 de fevereiro a economia russa entrou em colapso. Os russos acorreram aos bancos e máquinas multibanco para trocar quanto dinheiro pudessem por divisas fortes; e irromperam por lojas para comprar o que encontrassem antes que os preços disparassem. O rublo caiu 70% e os economistas prevêem que o rublo continuará a cair, aproximando-se de uma taxa de câmbio de 200 rublos por dólar norte-americano até ao final do ano (era cerca de 70 rublos antes da guerra de Putin). Em 8 de março, o banco central russo decidiu parar de cambiar rublos por moeda estrangeira, tornando o rublo inconvertível. A maior parte das reservas cambiais da Rússia (630 mil milhões de dólares) estão congeladas. As bolsas russas estão fechadas e o valor das 31 ações russas que são negociadas em Londres caiu 98% (a 15 de fevereiro, as ações do Sberbank no mercado secundário em Londres estavam a 14 dólares, a 13 de março estavam a 5 cêntimos). Os mercados de capitais da Rússia estão essencialmente mortos. Todos os ativos financeiros russos foram re-classificados para o estatuto de lixo. É provável que a Federação Russa entre brevemente em incumprimento relativamente às suas obrigações de dívida soberana. Não é improvável que a taxa de inflação atinja pelo menos 50%, e que o PIB russo venha a cair pelo menos 10% este ano.
Putin não percebeu que, no domínio financeiro, o mundo ainda não é multipolar.
A catástrofe económica em que a Rússia mergulhou é clara e deverá agravar-se. Ainda as sanções europeias e do "mundo ocidental" estão no início e já a economia, a banca e a finança russas estão a colapsar. Este desmoronamento, produto da imposição de um delírio imperialista, vai provocar miséria social na generalidade da população russa, criar instabilidade social e política e radicalizar uma fuga para a frente da liderança russa. Mas Putin só tem de queixar-se de si próprio.
Consultor financeiro e business developer
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