O ano de 18 meses
O ciclo que agora começa com a posse do novo presidente dos EUA vai prolongar-se pelos próximos 18 meses, isto é, até ao Campeonato do Mundo de Futebol que, também ele, e pela primeira vez, terá lugar nos EUA, México e Canadá, três países independentes que certamente assim se manterão.
Ciclo longo, dominado por uma certa agenda americana, e com o mundo a tentar perceber, entre a realidade e o poder da comunicação, qual o verdadeiro caminho que se pretende percorrer.
Um longo período no qual veremos e viveremos eleições em muitas democracias. Da Alemanha ao Canadá, da Itália à Polónia, da Croácia à Roménia, do Reino Unido à República Checa. A par destes, também algumas ditaduras, ou, como agora se diz, “regimes iliberais”, vão ter momentos que designam como eleições.
E em Portugal?
Curiosamente também Portugal está a entrar num ano de 18 meses.
No primeiro semestre vamos viver entre a expectativa e a confirmação da disponibilidade de milhares de portugueses para servirem as comunidades. Seja no serviço de proximidade às comunidades locais, seja no serviço a toda a comunidade nacional.
No segundo semestre faremos as primeiras escolhas, as de proximidade. E, certamente, seremos chamados a tirar as primeiras conclusões e, não nos iludamos - serão, como sempre foram, conclusões nacionais. Conclusões a partir das escolhas populares e das escolhas parlamentares sobre o Orçamento.
No terceiro semestre deste ano concluiremos as escolhas nacionais e, seja qual for a escolha nacional, iremos certamente acabar o semestre a dividir a nossa atenção entre o futebol que encerrará o ano, as escolhas de novas lideranças políticas em Portugal, e a escolha de uma nova liderança Executiva para Portugal.
Antecipa-se um vertiginoso ano de 18 meses, senti-lo-emos mais curto que muitos com os gregorianos 12 meses, e, sobretudo, como iniciador de um novo ciclo.
O desafio, para cada um de nós, vai ser o de, a partir da margem em que se posiciona no percurso da vida, assumir as responsabilidades pelas escolhas e pelo caminho futuro.
Cogito que vamos viver tempos difíceis. Tempos de niilismo e, também por isso, tempos de campo fértil para a afirmação de ideias que apelam à autoridade pela autoridade, à anulação da diferença, a restrições à liberdade e ao estimular da desconfiança entre os cidadãos.
À vertigem de uma época de trevas, que alguns teimam em anunciar e antecipar, teremos de contrapor, com toda a força da democracia e com a força que as convicções nos dão, a esperança e a luz que nos continue a iluminar no caminho da liberdade e do humanismo.
Termino citando Kant:
A preguiça e a cobardia são as causas por que os homens em tão grande parte, continuam, de boa vontade, menores durante toda a vida; e também por que a outros se torna tão fácil assumirem-se como seus tutores. É tão cómodo ser menor.
Advogado e gestor