O almirante, os sindicatos e os oportunistas

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À hora a que escrevo esta crónica, não estão fechadas as urnas, pelo que não imagino quem poderá ter ganho as eleições legislativas. Mas conheço já alguns dos derrotados deste período eleitoral. É sobre esses que decidi escrever.

Começo por Gouveia e Melo, que não para de nos surpreender pela negativa. Andou anos a dizer que jamais entraria na política, recorrendo a afirmações categóricas como: “Se isso acontecer, dêem-me uma corda para me enforcar”, “quando eu digo não, é não” ou “acho que daria um péssimo político”. Muitos percebiam nessas tomadas de posição uma espécie de “quem desdenha quer comprar”, uma quase sobranceria que tinha por intenção escondida testar as águas relativamente a uma possível candidatura “diferente”.

Chegados a 2025, somos confrontados com uma narrativa bizarra, segundo a qual Gouveia e Melo decidiu avançar porque o mundo ficou mais instável, com guerras na Ucrânia e em Gaza. Ou seja, a marinha tem de avançar para nos pôr a salvo. E nada como anunciar a candidatura à presidência a três dias das legislativas, em plena campanha. Um sentido – leia-se, falta dele – de oportunidade que ameaça tornar obsoletos todos os manuais de ciência política. Para um submarinista, esperava-se um melhor domínio da arte de emergir à tona.

O segundo derrotado desta campanha são os sindicatos. O regabofe das greves de motivo genérico, desenhadas para prejudicar o mais possível os outros portugueses, parece não ter limites. Uma coisa é o direito à greve, que deve ter por princípio reivindicações concretas e ser ponderada na escolha do momento e da duração. O problema é que a greve deixou de ser um instrumento de defesa dos trabalhadores, para ser uma prova de vida, por vezes com propósitos políticos, manejada por dirigentes que parasitam há demasiados anos nas estruturas sindicais.

O que dizer quando em plena campanha eleitoral, em que não se sabe que será o próximo interlocutor governamental, se embarca numa greve de dias a fios que paralisa os comboios? Ou que se convoca uma greve geral da função pública, para fechar serviços fundamentais como as escolas e os hospitais?

Por fim, os oportunistas que deambulam por partidos políticos candidatos, vendendo-se à melhor oportunidade. Bem sei que sempre existiram, mas o que me incomoda são aqueles que saltam de pouso em pouso, sem ideologia, coerência ou seriedade. O seu propósito? Chegarem a um tacho no parlamento, pago pelos contribuintes. O seu método? Um deplorável populismo, centrado na crítica ao sistema, curiosamente o sítio onde querem estar.

Figuras como Joana Amaral Dias, que começou na extrema-esquerda (Bloco) e acabou na extrema-direita (ADN), ou Cristina Rodrigues, que andou pelo PAN e agora milita no Chega, são simplesmente um insulto à democracia.

Estes são alguns dos derrotados da campanha. Quanto aos vencedores, que nesta segunda serão já conhecidos, espera-se que deem o seu melhor para bem governar a nação.

Professor catedrático

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