O alívio dos juros, finalmente
A semana arrancou com uma boa notícia para os portugueses. O economista-chefe do Banco Central Europeu, Philip Lane, considerou publicamente que estão reunidas as condições para aliviar as taxas de juro, a começar já na próxima semana. É um ponto de inflexão na trajetória iniciada em julho de 2022 - ou seja, há praticamente dois anos - que levou as pessoas, em particular quem tem crédito à habitação, a sofrer muito, depois de vários aumentos nas prestações dos seus empréstimos.
Foi um ajustamento muito duro, com o BCE frequentemente a demonstrar-se insensível perante as dificuldades enfrentadas pelas famílias. O seu mandato primário é o combate à inflação, verdade; mas o cumprimento desse desígnio não pode ser alcançado sem considerar as implicações da política monetária na vida real das pessoas. Várias vezes, nesta coluna, em Frankfurt e no Parlamento Europeu, perante Christine Lagarde e a sua Comissão Executiva, partilhei a minha preocupação com a postura excessivamente ortodoxa do Banco Central Europeu.
Ainda poderá surpreender alguns, mas as considerações do parágrafo anterior não são partilhadas por todos os partidos em Portugal. É que, apesar do combate à inflação ser uma prioridade relativamente comum nos diferentes campos políticos, este tema foi elucidativo sobre aquilo que separa, em particular, os dois lados do centro moderado. Em reação às subidas frequentes das taxas de juro, a direita portuguesa acompanhou a tese dos “falcões”, para quem a política monetária se resume essencialmente a cálculos de Excel para atingir o valor de referência da inflação (2%).
Joaquim Miranda Sarmento, então líder parlamentar do PSD e atual ministro das Finanças, apoiou as subidas das taxas de juro desde cedo. O Partido Popular Europeu - família europeia de PSD e CDS - seguiu a mesma linha. A direita juntou-se em críticas a António Costa quando o então primeiro-ministro notou as condições para uma redução dos juros. E, entre todos os eurodeputados portugueses, só os representantes da AD no Parlamento Europeu não apoiaram um pedido ao Banco Central Europeu para que baixasse as taxas de juro em fevereiro deste ano.
A decisão do BCE peca por tardia. Até porque, como é sabido, o impacto da descida das taxas de juro só chega à economia real com alguns meses de desfasamento. Logo, manter os juros elevados transporta consigo o risco de uma sobrecorreção - atirando a UE para uma recessão desnecessária, com forte impacto social.
Como nos tempos da troika, a direita portuguesa foi “mais papista que o Papa”. Tão ortodoxa na política monetária que acabou a fazer parceria com a própria Christine Lagarde em matéria de sensibilidade social.
Com as Eleições Europeias à porta, importa relembrar os eleitores que o Parlamento Europeu é a única instituição com a competência formal de escrutinar o trabalho do BCE. Aqueles que, em seu nome, farão esse escrutínio, definem-se nas urnas no próximo 9 de junho. Não fique em casa.
3 valores: Benjamin Netanyahu
Logo após o Tribunal Internacional de Justiça ordenar a suspensão imediata da ofensiva em Rafah (que nem fez Netanyahu pestanejar), o Exército israelita atacou dois acampamentos de refugiados, matando largas dezenas de civis. A História registará o nome do primeiro-ministro israelita pelos piores motivos.