Num mundo profundamente interconectado e em rápida mudança em que vivemos, o ritmo do nosso dia-a-dia é frequentemente avassalador. É esperado que processemos, ajamos e respondamos em tempo real, deixando pouco espaço para pausas e, ainda menos, para estabelecer conexões significativas. À medida que enfrentamos uma sociedade cada vez mais polarizada, os impactos dessa pressa tornam-se evidentes: comunidades fragmentadas, discursos de ódio propagados com maior incidência nas redes sociais e um aumento na desconfiança entre diferentes grupos. Esta situação é propensa para divisões e, demasiadas vezes, para crimes de ódio. Este fenómeno é particularmente visível na Europa, onde divisões de ordem étnica, religiosa e social se têm agravado na última década..Os números são preocupantes. Em 2021, dados da Rede Europeia Contra o Racismo mostrou um aumento alarmante dos crimes de ódio na Europa, com um crescimento estimado de 70% nos últimos cinco anos contra minorias e comunidades vulneráveis. A Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia também confirma este sentimento, que crimes de ódio e discursos de ódio são frequentemente alimentados pela influência das redes sociais, com mais de 80% dos utilizadores europeus da internet a encontrarem conteúdos de ódio online, sobretudo dirigidos a minorias religiosas e étnicas. Esta escalada de ódio — e a sua normalização — é impulsionada, em grande parte, por desinformação, preconceitos e um distanciamento crescente entre comunidades diversas..O atual clima europeu reflete, em parte, a falta de tempo — ou a sensação de não haver tempo — para parar e conversar, para verdadeiramente nos compreendermos uns aos outros. Tornámo-nos hábeis em reações imediatas e julgamentos precipitados, mas com que frequência nos envolvemos em diálogos sustentados e significativos com aqueles de quem discordamos? A ausência de conexão está a conduzir-nos por um caminho preocupante de divisão..O antídoto para esta divisão está na nossa capacidade de parar e nos envolvermos em conversas genuínas. O diálogo exige tempo — para ouvir, compreender e empatizar. Quando não reservamos esse tempo, perdemos oportunidades cruciais de compreender as preocupações, aspirações e frustrações dos outros..Apesar disso, há esperança. Os jovens, em particular, possuem um enorme potencial para promover mudanças sociais e um futuro mais inclusivo. Estão a envolver-se nos espaços digitais, mobilizando-se em torno de causas e usando as plataformas digitais para amplificar mensagens de paz e entendimento. Com o apoio adequado, os jovens podem liderar na mediação de tensões, especialmente em sociedades culturalmente e religiosamente diversas..Para que isso aconteça, devemos equipá-los com ferramentas e oportunidades para o diálogo, seja através de formação em resolução de conflitos, literacia digital ou entendimento intercultural. Estas ferramentas, por si só, não são suficientes. É essencial proporcionar-lhes o tempo e o espaço necessários para se reunirem, discutirem e verdadeiramente ouvirem. Apenas.assim poderemos preparar uma geração capaz de abrandar a polarização e construir pontes onde hoje existem muros..Encontrar tempo para dialogar não é apenas uma habilidade acessória ou um luxo. No clima atual, é uma necessidade..Este compromisso deve partir do topo, de líderes que reconheçam que o futuro das sociedades depende de um envolvimento sustentado e significativo. Se quisermos quebrar o ciclo de divisão e ódio, os líderes precisam de defender políticas que promovam o diálogo, apoiem encontros comunitários e incentivem iniciativas que sentem diversas comunidades à mesa..O caminho para um futuro mais inclusivo começa com uma pausa intencional. Começa por reservarmos tempo para ouvir quem está ao nosso lado, para compreender quem pensa de forma diferente e para abraçar a diversidade que define o nosso mundo. Apenas ao reservarmos tempo para estarmos verdadeiramente presentes, valorizando a conversa em vez do confronto, poderemos vislumbrar o tipo de mudança que nos unirá, em vez de nos afastar..Num mundo que se move mais depressa do que nunca, é essencial lembrar que para haver uma mudança significativa, tem de primeiro existir um momento de paz e com a disposição de reservarmos tempo uns para os outros. Vamos criar esse tempo. Pois só assim, quando estivermos verdadeiramente presentes, poderemos começar a trabalhar no entendimento e na construção de um mundo onde todas as vozes têm lugar à mesa..Secretário Geral no Centro International de Diálogo Inter-religioso KAICIID.