Novos tempos, novos perfis
Não é uma preocupação nova, mas com as mudanças que o mundo tem conhecido nos últimos tempos, muito por força da pandemia, tem havido uma preocupação constante e crescente com o que o cliente espera das empresas e do serviço que se presta, tentando adaptar-se o negócio às suas necessidades e expectativas, utilizando-se várias estratégias, nomeadamente de marketing, do tipo de produtos e serviços proporcionados, até à forma de atendimento.
Obviamente que, para que essas estratégias resultem, as empresas têm de conhecer o seu cliente, no fundo, têm de conhecer muito bem o perfil desse mesmo cliente.
Mas conhecer o(s) seu(s) target(s) é tema básico e óbvio para quem tem qualquer negócio. O mesmo não se pode dizer da preocupação de conhecer o perfil, não dos clientes, mas dos seus trabalhadores e, sobretudo, dos potenciais candidatos a trabalhadores.
De facto, a pandemia veio acelerar este tipo de dinâmicas, criando um novo perfil de trabalhadores, que exige às empresas uma nova abordagem. As estratégias de recrutamento e retenção de talento poderão mesmo estar condenadas ao fracasso porque, à semelhança do que acontece também com os clientes, o que temos para oferecer pode não corresponder às expectativas e anseios destes novos trabalhadores.
Tudo isto para dizer que temos hoje um perfil de trabalhadores diametralmente diferente daquele que o antecedeu.
Os trabalhadores que antes viam no fator salário o seu determinante para a escolha de um emprego, deram lugar a pessoas que valorizam outro tipo de recompensas e benefícios mais personalizados, que lhes permitam tempo "de qualidade" fora do emprego - oferta de uma viagem, ter folga no seu dia de aniversário, maior flexibilidade nos sistemas de trabalho, são alguns dos exemplos.
Outros fatores que hoje são cada vez mais apreciados pelos trabalhadores dizem respeito ao investimento que é feito na sua formação e qualificação, e às condições e ambiente de trabalho como espaços de lazer e de atividade física.
E enquanto antes se ambicionava um trabalho o mais estável e mecanizado possível, hoje os trabalhadores querem ter experiências e sentirem-se efetivamente parte da estrutura. Quanto mais o trabalhador estiver engajado e motivado, maiores serão os ganhos para todos os envolvidos.
A tudo isto junta-se a necessidade que estes novos trabalhadores têm de serem recompensados de forma imediata. Por essa razão, não nos devemos coibir de elogiar se for o caso, e de comunicarmos, claramente, as formas de reconhecimento seguidas pela empresa.
Se pensarmos bem, tudo mudou, onde antes se seguia um guião, que começava por estudar, arranjar emprego, sair de casa dos pais, constituir família e até adotar um cão ou um gato, hoje há muitos jovens que querem apenas "viver"! Acumular experiências sem quaisquer "amarras" a um emprego.
São assim muitos os desafios que se colocam, principalmente às empresas do turismo, que lutam com a escassez de trabalhadores e com uma crise de atratividade desta atividade. Sei que não é possível fazer tudo diferente de um momento para o outro, mas o leque de iniciativas que se podem tomar é grande e, com algum esforço e muita criatividade, vamos conseguir chegar onde queremos. E para quem ainda não trabalha no turismo, uma dica... é muito desafiante, mas muito apaixonante!
Secretária-geral da AHRESP