Novo Governo, novos desafios

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Suportado por uma maioria absoluta, o novo Governo inicia funções com condições de estabilidade e legitimidade política muito importantes para um mandato que se adivinha extremamente exigente.

À necessidade de recuperar da crise-covid, soma-se a urgência de resposta às consequências da guerra na Ucrânia, com todas as incertezas associadas.

Pelo que já se sabe, o aumento dos custos dos combustíveis afigura-se incontornável, transmitindo-se em cadeia a toda a economia. A inflação voltou.

Se se mantiver elevada, o poder de compra das famílias irá ressentir-se, afetando o seu nível de consumo e, portanto, a procura dirigida às empresas. Ao mesmo tempo, os altos custos energéticos ameaçam parar (ou mesmo fechar) muitas indústrias em que a energia é um importante fator de produção.

É verdade: acabados de sair da crise-covid (e sabendo que no outono poderemos ter uma nova vaga), confrontamo-nos com os riscos de uma nova crise. Uma vez mais, por fatores que não controlamos.

A equipa que António Costa reuniu terá de adotar ações urgentes para conter esses riscos, ao mesmo tempo que implementa as medidas estruturais que nos permitirão retomar os níveis de crescimento acima da média europeia que registávamos antes da pandemia.

As opções estratégicas foram vertidas no PRR, beneficiando assim de apoios europeus para a sua concretização. Agora é preciso pô-las rapidamente no terreno, o que não é tarefa a menosprezar.

Entre elas destaco a transição energética, que vê a sua relevância ainda mais sublinhada pela guerra e suas consequências. Se alguém ainda tinha dúvidas, ficou agora convencido de que é essencial acabar com a nossa dependência dos combustíveis fósseis - por razões económicas, geoestratégicas e ambientais.

Para as ações imediatas não há, por enquanto, apoios europeus. É essencial que sejam decididos rapidamente. No início da crise pandémica, a certeza de que muitos dos custos seriam reembolsados por Bruxelas permitiu aos governos lançar rapidamente apoios ao emprego e às empresas.

Prolongar a suspensão das regras orçamentais europeias não é suficiente. Permitem que os estados-membros tenham um défice mais elevado e, assim, usem mais recursos para apoiar as famílias e empresas mais afetadas pela crise. Mas leva ao aumento da dívida, que já cresceu bastante em todos os países por causa da pandemia. Com a agravante de que, com a inflação mais alta, também os juros serão mais altos. A que se junta a menor margem de manobra do Banco Central Europeu, que no cenário inflacionista terá de reduzir a compra de ativos.

Enquanto não surge um sinal de Bruxelas (que pode até nunca chegar), o governo terá de escolher seletivamente os apoios a atribuir. Ajudar as famílias mais vulneráveis perante o aumento dos preços dos alimentos e apoiar as empresas rodoviárias são passos nesse sentido. Mas será preciso encontrar soluções para casos mais difíceis, como as muitas fábricas que não podem suportar os custos energéticos, mas que o país também não pode deixar parar.

Serão tempos exigentes.

A eleição para Presidente da Assembleia da República de um dos mais brilhantes políticos portugueses, que dedicou a maior parte da sua vida à causa pública, deve ser assinalada.

De imediato mostrou o que dele podemos esperar: "O nacionalista odeia a pátria dos outros, discrimina quem é diferente. E é do lado oposto a esse nacionalismo que o Parlamento deve estar."

Eurodeputado

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